Foi numa manhã chuvosa, daquelas em que Lisboa faz por imitar outras cidades europeias, que MSTavares® , CPCorreia® e MRPinto® se reuniram como sócios fundadores da Liga dos Amigos dos Plagiadores Não Anónimos. Estavam bem dispostos, contavam anedotas do Sala uns aos outros, pois estava-lhes vedada a piadola original de improviso, e a discussão previa-se desde logo acesa em torno do primeiro artigo dos estatutos: «Será considerado plágio acima das três palavras iguais, ou serão precisas quatro?» MST, que tinha vindo do tratamento dum processo de negação, estava bastante liberal «acho que desde que se mude o título e os agradecimentos finais já deve ser aceite», MRP parecia algo confusa e afirmava que só deveria ser admitido um plágio que fosse descoberto antes das 11 semanas, e CPC, ainda a braços com um processo que tinha instaurado à Microsoft por se lhe ter encravada tecla e o rato no copy paste, afirmava que para o plagiador tinha de haver explicação científica e ela achava que era tudo por causa dum gene que também aparecia numa osga escarlate da Nova Guiné.
Havia no entanto assuntos de expediente a tratar e tiveram de se deixar de divagações programáticas. Tinham à frente a ficha de inscrição de MFMónica® , que apresentava como justificação o facto de nas suas memórias ter copiado um acontecimento da biografia da gina lolobrigida em que esta beijava a nuca dum nadador salvador e pintor simbolista que a tinha safo (mitologias à parte) duma patuscada de piranhas num riacho da Sardenha. Parecia-lhes um plágio consistente e até decidiram convidá-la para tesoureira porque tinha ar de boas famílias e um espírito muito aberto. O boletim de EPCoelho® já lhes parecia menos convincente porque se acusava de ter usado uma estrofe inteirinha de Paul Valery, com vírgulas e tudo, para fazer uma tese sobre o papel da rebentação das ondas na poesia não masturbatória de florbela espanca, mas MST defendeu-o porque tinha sido esse Valery que lhe tinha aberto os olhos no tratamento, quando escreveu ‘Le meilleur ouvrage est celui qui garde son secret le plus longtemps’. MRP já não estava a acompanhar a conversa e saca do boletim de inscrição de Sócrates que vinha assinado por Cavaco e dizia: «porra, mas este tipo nem um sorrizinho, nem um safa, nem uma fatiazinha de bolo rei, nem nada» mas os outros responderam que os políticos não podiam entrar na Liga porque: uma coisa era plágio, e havia que preservar a sua dignidade própria, outra coisa era o ‘lêem todos a mesma cartilha’ e para isso até já tinham de pedir autorização ao João de Deus e ao Armando Vara.
Já se estava a fazer tardinha, e a MRP mostrava-se inquieta porque tinha de ir para o cabeleireiro escrever o seu próximo romance, (a pedicure acho que fodia às quintas com um tipo que era contabilista) quando aparece inesperadamente o boletim de VPValente® reconhecendo que já tinha escrito vários artigos depois de ouvir um tipo no Speacker’s Corner que era viciado em Bourbon com capilé. Nesta altura tiveram forçosamente de definir bem a fronteira entre cópia e inspiração, e MST disse peremptoriamente que tudo se jogava na alma do plagiador: a inspiração é uma fragilidade do inconsciente, um plagiador sério não finge interpretar, não conjectura, não circunstancializa (MRP nesta altura já não acompanhava outra vez e pensava em fazer umas madeixas como as da joni mitchell) isso é para o crítico literário, para os decoradores de interiores e para os tipos que escrevem editoriais nos jornais; CPC ia-se desvanecendo com o derramamento dum intelecto tão viril e questionou se podia usar aquela frase dele num artigo sobre as semelhanças da fotossíntese e do trajecto da seiva elaborada na bolota e no musgo da pantagónia, mas ele até se indignou porque num plágio em condições nunca se deve pedir licença, isso é o plágio apanascado. Mas estava mesmo a ficar tarde, o lusco fusco já lhes toldava as ideias, e nem sequer a ficha de inscrição de VGMoura® a confessar que tinha posto uma frase do Racine na tradução dos sonetos de Shakespeare e que ninguém tinha notado, os fez prolongar a sessão inaugural da Liga, e lá foram todos jantar para um daqueles restaurantes onde não vai ninguém, ali para a bica do sapato.
Havia no entanto assuntos de expediente a tratar e tiveram de se deixar de divagações programáticas. Tinham à frente a ficha de inscrição de MFMónica® , que apresentava como justificação o facto de nas suas memórias ter copiado um acontecimento da biografia da gina lolobrigida em que esta beijava a nuca dum nadador salvador e pintor simbolista que a tinha safo (mitologias à parte) duma patuscada de piranhas num riacho da Sardenha. Parecia-lhes um plágio consistente e até decidiram convidá-la para tesoureira porque tinha ar de boas famílias e um espírito muito aberto. O boletim de EPCoelho® já lhes parecia menos convincente porque se acusava de ter usado uma estrofe inteirinha de Paul Valery, com vírgulas e tudo, para fazer uma tese sobre o papel da rebentação das ondas na poesia não masturbatória de florbela espanca, mas MST defendeu-o porque tinha sido esse Valery que lhe tinha aberto os olhos no tratamento, quando escreveu ‘Le meilleur ouvrage est celui qui garde son secret le plus longtemps’. MRP já não estava a acompanhar a conversa e saca do boletim de inscrição de Sócrates que vinha assinado por Cavaco e dizia: «porra, mas este tipo nem um sorrizinho, nem um safa, nem uma fatiazinha de bolo rei, nem nada» mas os outros responderam que os políticos não podiam entrar na Liga porque: uma coisa era plágio, e havia que preservar a sua dignidade própria, outra coisa era o ‘lêem todos a mesma cartilha’ e para isso até já tinham de pedir autorização ao João de Deus e ao Armando Vara.
Já se estava a fazer tardinha, e a MRP mostrava-se inquieta porque tinha de ir para o cabeleireiro escrever o seu próximo romance, (a pedicure acho que fodia às quintas com um tipo que era contabilista) quando aparece inesperadamente o boletim de VPValente® reconhecendo que já tinha escrito vários artigos depois de ouvir um tipo no Speacker’s Corner que era viciado em Bourbon com capilé. Nesta altura tiveram forçosamente de definir bem a fronteira entre cópia e inspiração, e MST disse peremptoriamente que tudo se jogava na alma do plagiador: a inspiração é uma fragilidade do inconsciente, um plagiador sério não finge interpretar, não conjectura, não circunstancializa (MRP nesta altura já não acompanhava outra vez e pensava em fazer umas madeixas como as da joni mitchell) isso é para o crítico literário, para os decoradores de interiores e para os tipos que escrevem editoriais nos jornais; CPC ia-se desvanecendo com o derramamento dum intelecto tão viril e questionou se podia usar aquela frase dele num artigo sobre as semelhanças da fotossíntese e do trajecto da seiva elaborada na bolota e no musgo da pantagónia, mas ele até se indignou porque num plágio em condições nunca se deve pedir licença, isso é o plágio apanascado. Mas estava mesmo a ficar tarde, o lusco fusco já lhes toldava as ideias, e nem sequer a ficha de inscrição de VGMoura® a confessar que tinha posto uma frase do Racine na tradução dos sonetos de Shakespeare e que ninguém tinha notado, os fez prolongar a sessão inaugural da Liga, e lá foram todos jantar para um daqueles restaurantes onde não vai ninguém, ali para a bica do sapato.
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