O mundo, desde que descobriu que a «acrilamida se forma durante a fritura, a cozedura no forno e os assados em condições de alta temperatura e baixa humidade», nunca mais foi o mesmo. A busca de culinárias alternativas tem levado a espécie aos maiores horrores, e tem inclusivamente afastado a mulher da cozinha, deixando esta ao abrigo de infestações de homens que agora chegam a dizer «eu relaxo muito a cozinhar». Ora homem que relaxe a cozinhar merece bem que a acrilamida se lhe enfie pelos interstícios da masculinidade que nem um peróxido de carbono amestrado. E isto tudo para vos contar que se está a perder o encanto pela fritura. Repare-se que qualquer dia, estejamos à beira do apocalipse final, ou da reeleição do sócrates, ou de mais uma quadratura do círculo, ou de outro livro do MST, queremos aliviar da desolação da pátria e da diarreia de convicções apregoadas em que vivemos, e apetece-nos dizer que estamos todos fritos, e, já nem sabendo o que isso é, acabamos a desabafar: ‘estamos todos ao vapor!’ Por favor! Esta chapsoisização dos costumes, em que tudo deve vir servido entre rebentos de soja e molhinhos de ranho de gato leva o género humano a esquecer-se que é no óleo da fritura que se devem tratar os grande assuntos da humanidade, ali a borbulhar que nem mártires cristãos, e jamais ao vapor ou no carvão, e muito menos na pedra (até por causa das costas, mas agora divaguei, reconheço). Tenho agora até de vos confessar que me perdi completamente no tema disto, mas realmente o que me trouxe aqui até foi ter visto ontem um quadro que está no Louvre dum tal Lorenzo Lotto (séc. XVI) em que Jesus aparece com a mulher adúltera mas apresenta um arzinho todo penteadinho e anafado, pá, ou põem Jesus com um ar esquálido, distante e sofredor ou eu começo a dar borlas a budistas em três tempos, ou a ler o Tao da Física, e isto para já nem falar que a Agustina tem um livro novo, e parece que nem é plágio nem nada, assim nem tem piada (o ‘mil folhas’ diz que’ para ela tudo é pretexto’- a última vez que me disseram isso até amuei). Bem passado, please, com o Pulido valente a cavalo, e a ferreira alves num pratinho à parte, até porque o ramalho Eanes também tem um livro de poemas de cabeceira, já só falta o Macário Correia. Mas limpem bem a porra do filtro, foram as últimas palavras de Dante antes de sair do purgatório.
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