Carta de amor de um adepto devidamente alscoolarizado
Querida, gostei tanto de ver o jogo contigo. Já não estávamos assim agarradinhos há tanto tempo; começamos como combinado, tu gozavas com os de branco e eu gozava com os de encarnado, só tive pena que as amêijoas tivessem esfriado, mas tu não paravas de te rir a comer as azeitonas sem caroço, fazias um ar de descarada, e, olha, eu nem comia nada, só para desfrutar do prazer de te ver rir até ao soluço. Ai foi tão giro, entrelaçarmos as espinhas ao ritmo das trocas de pernas daquelas andorinhas; acho que eles estavam ansiosos, querida, lembras-te, como nós a primeira vez, nem te queres lembrar, pois, acredito, olha, mas eles coitadinhos estavam-se a estrear neste mundial, aquilo é de muita responsabilidade, muita fruta também se costuma dizer, sabes, não é como o amor, nem como fazer peixe assado, ó que pensas, lembras-te do primeiro peixinho que me fizeste, estava sequinho coitado, e vê lá tu que o comi todinho, até às escamas que tostavam em crosta, e sem um pio, soube-me que nem uma lagosta; gostei tanto quando adormeceste ao meu colo, nem pude saltar quando foi o golo, mas adormeceste tão cedo querida, eu sei, não há nada como o meu colinho, nem preciso de balanço, não é, são dons que se há-de fazer, uns fazem remates em trivela outros embalam que nem barcos à vela, fiz-te poucas rimas, pois foi, desatinei com o verso alexandrino, e depois fraquejei nas interpoladas, mais valia terem sido duas seguidas bem dadas, credo que linguagem, que horror, e logo numa carta de amor, mas se tudo no amor é assim mesmo, uma no cravo outra na ferradura, o que arde cura e o que aperta segura, e tanto bate até que fura, antes fosse, que é do verbo fosser, o verbo é novo, a meio caminho entre o ser e a fossa, verbo das neuras de tamanho médio, daquelas angústias sem tragédia, mas o pior foi a linha média, sem Deco, miséria, é como namorar numa ponte aérea, quando um está a vir-se o outro já se está a preparar para ir, depois acordei-te com aquele beijo no pescoço lembras-te, até fiquei com o cabelo colado à boca, foi na altura em que o Ronaldo se ultrapassou na finta, apanhei-te a olhar para a carinha triste dele e então roí-me de ciúmes, pronto, é insegurança, já sabes, um homem mesmo que saiba dar um colo como nenhum outro também tem os seu momentos de fraqueza, e de franqueza, sim, é mais raro, mas tem. Não devias ser tão exigente com eles, querida, estavam nervosos, não vês, era o primeiro jogo, foi como no teu primeiro arrozinho de polvo, lembras-te, ficou tão duro, eu depois até brinquei contigo, que nem tudo era bom assim tão duro, levaste a mal, insinuaste que eu ainda me tornaria um tarado, mas até nem fiquei, foi pena eles não jogarem nada, e os outros que mal sabiam correr, mas pronto nós também não devíamos ter bebido tanto champagne daquele, e ainda para mais nem havias bifanas para acompanhar, olha ficaram os três pontos, na vida primeiro há que segurar os três pontos, só depois é que se deve avançar para o triângulo, não vá aquilo ficar tudo a abanar, e o sofá depois não aguentar, quando for do irão, pões aquela tua saia às riscas, enceramos o chão e acompanhamos com pataniscas, boa?
Querida, gostei tanto de ver o jogo contigo. Já não estávamos assim agarradinhos há tanto tempo; começamos como combinado, tu gozavas com os de branco e eu gozava com os de encarnado, só tive pena que as amêijoas tivessem esfriado, mas tu não paravas de te rir a comer as azeitonas sem caroço, fazias um ar de descarada, e, olha, eu nem comia nada, só para desfrutar do prazer de te ver rir até ao soluço. Ai foi tão giro, entrelaçarmos as espinhas ao ritmo das trocas de pernas daquelas andorinhas; acho que eles estavam ansiosos, querida, lembras-te, como nós a primeira vez, nem te queres lembrar, pois, acredito, olha, mas eles coitadinhos estavam-se a estrear neste mundial, aquilo é de muita responsabilidade, muita fruta também se costuma dizer, sabes, não é como o amor, nem como fazer peixe assado, ó que pensas, lembras-te do primeiro peixinho que me fizeste, estava sequinho coitado, e vê lá tu que o comi todinho, até às escamas que tostavam em crosta, e sem um pio, soube-me que nem uma lagosta; gostei tanto quando adormeceste ao meu colo, nem pude saltar quando foi o golo, mas adormeceste tão cedo querida, eu sei, não há nada como o meu colinho, nem preciso de balanço, não é, são dons que se há-de fazer, uns fazem remates em trivela outros embalam que nem barcos à vela, fiz-te poucas rimas, pois foi, desatinei com o verso alexandrino, e depois fraquejei nas interpoladas, mais valia terem sido duas seguidas bem dadas, credo que linguagem, que horror, e logo numa carta de amor, mas se tudo no amor é assim mesmo, uma no cravo outra na ferradura, o que arde cura e o que aperta segura, e tanto bate até que fura, antes fosse, que é do verbo fosser, o verbo é novo, a meio caminho entre o ser e a fossa, verbo das neuras de tamanho médio, daquelas angústias sem tragédia, mas o pior foi a linha média, sem Deco, miséria, é como namorar numa ponte aérea, quando um está a vir-se o outro já se está a preparar para ir, depois acordei-te com aquele beijo no pescoço lembras-te, até fiquei com o cabelo colado à boca, foi na altura em que o Ronaldo se ultrapassou na finta, apanhei-te a olhar para a carinha triste dele e então roí-me de ciúmes, pronto, é insegurança, já sabes, um homem mesmo que saiba dar um colo como nenhum outro também tem os seu momentos de fraqueza, e de franqueza, sim, é mais raro, mas tem. Não devias ser tão exigente com eles, querida, estavam nervosos, não vês, era o primeiro jogo, foi como no teu primeiro arrozinho de polvo, lembras-te, ficou tão duro, eu depois até brinquei contigo, que nem tudo era bom assim tão duro, levaste a mal, insinuaste que eu ainda me tornaria um tarado, mas até nem fiquei, foi pena eles não jogarem nada, e os outros que mal sabiam correr, mas pronto nós também não devíamos ter bebido tanto champagne daquele, e ainda para mais nem havias bifanas para acompanhar, olha ficaram os três pontos, na vida primeiro há que segurar os três pontos, só depois é que se deve avançar para o triângulo, não vá aquilo ficar tudo a abanar, e o sofá depois não aguentar, quando for do irão, pões aquela tua saia às riscas, enceramos o chão e acompanhamos com pataniscas, boa?
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