A questão religiosa
( com uns pozinhos pessoais}

{1} Independentemente da fantochada que possa significar este folclore danbrowniano, o que é uma facto é que a Igreja e a fé-crença cristã-católica foram apanhadas algo ‘desprevenidas’ (vou tentar não abusar da cobardia das aspas) nesta esquina do tempo céptico-mediático-pseudo-informado.

{2} A Igreja na sua conhecida guerra contra os deficientes subjectivismos e relativismos procurou fomentar nos seus fiéis – e bem, e muito bem- o espírito de caridade, o respeito pela vida e pelo próximo, pela verdade Revelada, e a participação dos sacramentos, mas foi deixando desvalorizar – fora dos circuitos mais especialistas e ‘eruditos’ – o real e abrangente aprofundamento sistemático das bases históricas da sua religião.

{3} Preparada para as dúvidas pascalianas, preparada para os reformismos bíblicos, preparada para alguns anticlericalismos bacocos, preparada para os racionalismos e para as teologias mais libertárias, preparada para os desafios da ciência e dos espiritismos mais ou menos gnósticos, mais ou menos preparada para a indiferença religiosa, não carregou convenientemente as espingardas para o momento em que atacasse (novamente) em massa, e em várias frentes, a dúvida: ’então isto poderá estar tudo assente num chorrilho de embustes históricos’, e ainda para mais com um aparato simultaneamente hollywoodesco, subliminar e viscoso.

{3} A Igreja foi deixando cair paulatinamente (mas aqui não tem a ver com S. Paulo), se calhar pelo seu inexorável mergulho nos tempos, a importância desta necessidade de fazer com que os crentes fossem tendencialmente cultos, cientes dalguns vazios de fundamentação histórica aqui e acolá, e deixou de lhes ir garantindo a cobertura arqueológica a par da apologética, fiando-se no êxtase pictórico das capelas sistinas da fé.

{3 A} Sempre estive persuadido e senti que o mais importante da fé era a gestão da presença de Deus em nós, mas sempre considerei que um dos grandes desafios desta religião era o apelo a conhecer as suas raízes e a aprofundar serenamente os seus dilemas, as suas ‘razões’ e os seus ‘dados’. Apesar dos raiares do fascínio duma ‘fé mística’ sempre me senti muito mais próximo duma ‘fé teologal’ e o meu coração balançará entre uma ‘Summa Teologica’ e um terço na Capelinha das Aparições. Não precisei de Stº Agostinho para saber que era um pecador, nem da Madre Teresa para saber que era junto dos ‘deixados pelo mundo’ que se encontrava Cristo no seu esplendor. Se calhar a moral acompanhar-me-á sempre como um Ás de copas na manga dum batoteiro a quem um jogo nem está a correr mal, e que até tenta fazer por isso, mas lembro-me sempre que Cristo veio também mostrar que queria uma fé fundamentada na experiência humana e não tanto em Toras a viverem nos alçapões da consciência.

{4} A Igreja, entre muitas coisas, é um legado de Jesus, e por isso também descerá do norte das Galileias até ao sul das Judeias se for preciso dar conta dos vendilhões, mas eu cá, pelo sim pelo não, ainda punha mas era no prego algumas esculturas do Miguel Angelo do Museu do Vaticano, e comprava por atacado a National Geographic, a CNN e o Canal Panda para recuperar algum tempo perdido.

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