Ponto de ordem à mesa. O regresso à política pura.

Somos governados por um 1º ministro banal mas esforçado, irritante apenas quanto baste mas sem chegar a pingar do nariz, previsível mas sem cansar demasiado (tirando as gravatas, claro) e que lá vai gerindo como pode e sabe o equilíbrio difícil entre a demagogia, os chamados tempos difíceis e o Lacão no governo; temos um presidente banal mas de primeira dama discreta com os netinhos, umas forças armadas banais mas com as fardas limpinhas e os bigodes aparados, o trotskismo está confinado apenas a algumas almoçaradas, mantivemos uma colónia atrevida ( madeira) e uma outra deliciosamente ruminante (açores), já temos os nossos casos públicos de pedofilia, corrupção, violência doméstica, e um ou outro escândalo sexual, com um ou outro pormenor picante, que já não nos envergonham perante ninguém, o estado é oficial e protocolarmente laico, apesar de N. Srª de Fátima ainda manter um estatuto ligeiramente superior ao da padeira de Aljubarrota, as exportações ora sobem mais ora sobem menos, consoante o sentido do vento, as empresas ora fecham ora abrem, consoante as tonalidade das nuvens, mantemo-nos portanto um país de tendência eminentemente bucólica e agrícola, conservamo-nos igualmente ligeirinhos a produzir legislação à tripa forra, um bocadinho mais duros a percebê-la e a fazê-la cumprir, mas também já nada que nos diminua especialmente perante a unicef ou a amnistia internacional ou o greenpeace, está inclusivamente quase a decretar-se que é de mau tom dizermos ‘eu’ quando nos estamos a referir a nós próprios e a aparecermos na capa dos nossos próprios livros, já se faz uma campanha do pirilampo mágico sem muitas piadas e os gatos fedorentos já estão a gerir-se pela bitola dos malucos do riso e da alexandra solnado; há alguns temas de consenso nacional como o amor a Rangel e Carrilho, os corporativismos estão com o seu lugar ao sol mas com um bronze que já não ofende demasiado, o liberalismo selvagem mas esclarecido e fundamentado continua comparticipado se for aviado com receita, o socialismo já é muito bem aceite como genérico da vaselina e a direita começou a vender benzinho em marca branca (apesar de estar cada vez mais próxima da secção de puericultura). Claro que vamos sentir falta de Soares, como já sentimos da Rainha Sta Isabel e do Bartolomeu Dias, claro que seremos sempre aquela nação valente e imortal que pariu durão barroso, mas basicamente joaquim de almeida mantém-se bem longe e ainda ninguém profanou o soldado desconhecido nem transformaram a torre de belém em barriga de aluguer. Isto ainda vai lá, parecemos parados mas não criamos varizes.

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