Diário de um concubinador de cores
mas qualquer homem depois da batota gosta de recolher ao colo da submissão a trunfo

Vai fazer agora para muitos dias que desprezei um fuscia. Estava demasiado enleado com um violeta adamascado e por isso não lhe dei o devido valor; perdida cor. Pálida imagem dei de mim próprio ao ser vencido pela pressão das cores banais, das combinações que arregalam a vista. Mas hão-de ver, hão-de ver, um dia destes faço um verde azeitona parecer-vos um azul ganga brometiado. Nada de mais fácil, basta não metalizar muito as vistas, crivar os olhos como que fornicando com eles e atarrachar a pupila. Mas vão por mim, pode custar a entender, mas toda a ciência das cores está naquele famoso enclave entre a camisa e a gravata; os impressionistas pouco sabiam, os fauvistas sabiam demais e os abstraccionismos posteriormente servidos à civilização em sortido pouco acrescentaram. Hermés e que se foda. Já sei, as combinações de cores podem-nos colocar na fronteira do apanascamento, pôr a nu temperamentos marcados pela frivolidade, reduzir-nos a puros produtos da influência, e, tenho de conceder, muito traste se esconde num contraste de belo efeito. Agora estou pior do que quando comecei, e que pena, era um tema tão ligeiro; agora já não sei que cor escolheria para aquele momento, para aquele momento em que quisesse mesmo surpreender; qual será a cor da surpresa? Tomei uma decisão, no primeiro dia em que chorar, nesse abençoado dia, chorarei em cor de melancia, nem é sangue, nem é ranho, serão lágrimas sem tamanho; pego-te na mão e serás o meu mata-borrão. Não rumines, não tires esquadrias, não marmoreies, anseia-me antes numa cor à tua escolha e eu estarei sempre verde na hora da recolha.

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