Quaresma XXIII

Isto não é especialmente verdade, nem está especialmente bem escrito, nem é especialmente novo...

«Descobri que a diferença principal entre os bairros pobres e a baixa, é que as pessoas são mais verdadeiras nos primeiros. Suponho que não têm outro remédio. Aí uma prostituta é uma prostituta; um chulo é um chulo; um ladrão é um ladrão; um maricas é um maricas; um filho da mãe é um filho da mãe.
Na baixa era diferente – mais complicado. Uma prostituta por vezes era uma senhora de sociedade; um chulo podia ser um dandy; um ladrão podia ser um executivo; um maricas podia ser um playboy; um filho da mãe era uma pessoa desajustada e com problemas.

... mas é da ‘autoria’ de alguém que está por detrás duma das vozes mais singulares que se podem ouvir, e que, mesmo não sendo tão brilhante como o padre António Vieira, ainda ‘disse’...

«Naquela altura as pessoas ficavam admiradíssimas se vissem um branco com uma negra e hoje em dia continua tudo na mesma...podia tratar-se de Marian Andersen com o seu agente; ou uma bailarina com o seu chulo. Não interessa que aspecto tinha o casal, mas os filhos da mãe achavam que se estivessem juntos era só por um motivo. Talvez fosse, talvez não fosse. Mas se não fosse era o mesmo que ser , porque ninguém acreditava(...)
Isto torna a vida uma chatice permanente(...) pode-se lutar, mas não se pode vencer.
A única altura em que vivi livre disso foi quando era prostituta e tinha fregueses brancos. Ninguém nos chateava. As pessoas perdoam tudo o que for preciso se for para ganhar dinheiro.»

...Billie Holiday na sua 'biografia ditada'- ‘Lady sings the blues’ (1992, ed Antígona, pg 115, 125) e aparentemente controversa. Menos controversa será a sua voz gemida, que, como José Duarte refere no prefácio :«não deixou descendentes nem discípulos».
E talvez um dia eu ainda comece a escrever mais sobre bola. Hademver.

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