Quaresma XXI
Esta passagem (tipo Love boat em versão Kursk) …
«De modo que a união física era para mim como que garantia do verdadeiro amor.(…) Direi agora que essa ideia foi uma das muitas ingenuidades minhas. (…) Longe de me tranquilizar, o amor físico perturbou-me ainda mais, trouxe novas e torturantes dúvidas, dolorosas cenas de incompreensão, cruéis experiências. (…) Os meus sentimentos (…) oscilaram entre o amor mais puro e o ódio mais desenfreado(…) de súbito assaltava-me a dúvida de que era tudo fingido. Por momentos parecia-me uma adolescente pudica e de repente parecia-me uma mulher qualquer (…) Em tais ocasiões, não podia evitar a ideia de que representava a mais subtil e atroz das comédias, (…) eu tinha a certeza de que (…) conseguíamos comunicar um com o outro, mas de forma tão subtil, tão passageira, tão ténue, que ficava logo mais desesperadamente só do que antes, com essa imprecisa insatisfação que experimentamos ao querer reconstruir certos amores de um sonho. (…)
…do ‘O Túnel’ do Ernesto Sabato demonstra que não há melhor tema literário que a obsessão amorosa, aliás, não há mesmo nada mais saudável para o nosso equilíbrio que assistir uma obsessãozita doentia em prosa, e ainda acrescentaria, sem medo, que a melhor maneira de aferirmos da nossa sanidade é acompanhar a capacidade interna de gerirmos uma boa obsessão como quem põe mostarda num cachorro ( sem lamber). E, seguindo para bingo: o amor sem insegurança assemelha-se à irrelevância duma certidão do registo predial rasurada a garantir uma livrança protestada, ou seja, se ninguém passou por isto : «Sentia un amor vertiginoso por Alejandra. Com tristeza pensó que ella, en cambio, no lo sentia. Y que si lo necessitaba a él, Martin, no era en todo caso com el mismo sentimento que él experimentaba hacia ella.» que com simplicidade diz também Sabato em ‘Sobre héroes y tumbas’ ( ed Seix Barral, pg 92), então é melhor começar tudo de novo, com sapatos engraxados e roupa interior lavadinha. A certeza dum amor correspondido é uma sensaboria.
Esta passagem (tipo Love boat em versão Kursk) …
«De modo que a união física era para mim como que garantia do verdadeiro amor.(…) Direi agora que essa ideia foi uma das muitas ingenuidades minhas. (…) Longe de me tranquilizar, o amor físico perturbou-me ainda mais, trouxe novas e torturantes dúvidas, dolorosas cenas de incompreensão, cruéis experiências. (…) Os meus sentimentos (…) oscilaram entre o amor mais puro e o ódio mais desenfreado(…) de súbito assaltava-me a dúvida de que era tudo fingido. Por momentos parecia-me uma adolescente pudica e de repente parecia-me uma mulher qualquer (…) Em tais ocasiões, não podia evitar a ideia de que representava a mais subtil e atroz das comédias, (…) eu tinha a certeza de que (…) conseguíamos comunicar um com o outro, mas de forma tão subtil, tão passageira, tão ténue, que ficava logo mais desesperadamente só do que antes, com essa imprecisa insatisfação que experimentamos ao querer reconstruir certos amores de um sonho. (…)
…do ‘O Túnel’ do Ernesto Sabato demonstra que não há melhor tema literário que a obsessão amorosa, aliás, não há mesmo nada mais saudável para o nosso equilíbrio que assistir uma obsessãozita doentia em prosa, e ainda acrescentaria, sem medo, que a melhor maneira de aferirmos da nossa sanidade é acompanhar a capacidade interna de gerirmos uma boa obsessão como quem põe mostarda num cachorro ( sem lamber). E, seguindo para bingo: o amor sem insegurança assemelha-se à irrelevância duma certidão do registo predial rasurada a garantir uma livrança protestada, ou seja, se ninguém passou por isto : «Sentia un amor vertiginoso por Alejandra. Com tristeza pensó que ella, en cambio, no lo sentia. Y que si lo necessitaba a él, Martin, no era en todo caso com el mismo sentimento que él experimentaba hacia ella.» que com simplicidade diz também Sabato em ‘Sobre héroes y tumbas’ ( ed Seix Barral, pg 92), então é melhor começar tudo de novo, com sapatos engraxados e roupa interior lavadinha. A certeza dum amor correspondido é uma sensaboria.
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