Quaresma XII

Os puritanismos…

«Tinha perdido qualquer atributo, cuja permanência fora essencial para a conservar mulher. Tal é muitas vezes a sorte, e tal o austero desenvolvimento, da pessoa e do carácter femininos, quando a mulher encontrou, e atravessou, experiências de uma severidade especial. Se for toda ternura, morrerá. Se sobreviver, ou essa ternura ficará esmagada nela, ou – o que não difere do aspecto anterior – calcada tão para dentro do seu coração que nunca mais poderá mostrar-se.
(…)
Grande parte da frieza marmórea, de que Hester dava a impressão, deve ser atribuída à circunstância de que a sua vida se tinha voltado, em alto grau, da paixão e da emoção para o pensamento. Sozinha no mundo – sozinha quanto a qualquer dependência da sociedade, e com Pearl para guiar e proteger – sozinha, e sem esperança de recuperar a sua posição, mesmo que não desprezasse o tê-lo por desejável, ela deitou fora os elos de uma cadeira partida. A lei do mundo deixara de ser lei para o seu espírito. (…) É notável que os indivíduos, que especulam com maior audácia, muitas vezes se conformam com a maior tranquilidade às regras externas da sociedade. Basta-lhes o pensamento, sem que precise de vestir a carne e o sangue da acção»

… eram outros, no tempo de ‘A letra escarlate’ de Nathaniel Hawthorne ( ed. D. Quixote, com tradução do Fernando Pessoa, pags 208/9, 1988), mas esses tiques próprios dos campeonatos da fidelidade-à-letra—feita-doutrina ( calvinista naquela altura e caso) existiram sempre e provocarão também sempre ( e utilizo agora a corruptela duma frase da Agustina B. Luís…) ‘almas viciadas’ em todas as frentes da batalha. (… ouvida ontem numa entrevista à – inenarrável, pela deferência quase demencial - MJAvilez , enquanto a sra dona do carrapito lá lhe dizia que « quando escrevi isso ( ‘a alma é um vício’) nunca foi para ter de explicar»; tal como a história de Hester)

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