O bate-chapas de civilizações

As civilizações chegavam-lhe num mísero estado a reboque da empresa ‘das clivagens culturais’; os pneus apresentavam-se meramente recauchutados por uma tal de ‘diálogos inter religiosos’, franchisada à pressa da casa mãe ‘La ecuménica’, (em pré falência por estar sempre a mudar de colecções à pressa) e com tanto airbag informativo activado nem se conseguia olhar bem lá para dentro.
Não se lhes poderia rebarbar muito, há ligas muito sensíveis, e como a clientela também já desconfia de tudo não se deveria abusar dos polimentos; mas o importante era manter o chassi com o menor empeno possível para não ir parar tudo ao ferro-velho. Os gajos das seguradoras não largam a porta da oficina, chiça, tanto interesse por chapa de civilização amolgada. Por isso é que ele tinha sempre este desabafo: tanto trabalho a orçamentar e acabam quase sempre a vender isto às peças porque assim ainda lhes rende mais; e quem se safa em qualquer ocasião são os tipos dos reboques, vão tagarelando, andando e cobrando.
Mas bom, bom, são os choques em cadeia; bloqueiam logo a estrada e há muita civilização mirone que vai levando uns toques ligeiros por tabela. O centro do negócio está na neblina, o óleo na estrada não chega para montar uma estratégia. E ele há modelos, valha-me Deus, parece que foram feitos para bater. Mas enquanto aquelas civilizações desenhadas a cad-cam só com uma batidelazinha até dá gosto ir-lhes alisar a chapa, há outras que já andam batidas há tanto tempo que nem se sabe por que ponta lhes pegar.

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