À medida se disse, aliás cediço, perdão cedido:
Tema: nenhum de princípio, algo irá aparecendo
Apenas reprimindo a ansiedade de comer uns cacahuetes, chamando à colação monstros sagrados da arte e da história e procurando produzir ténues piadolas (rima com gansos patolas, pró caso de alguém querer aproveitar) matricialmente encadeadas e tudo sem passar as 25 linhas
Neste momento fala Nelo Vingada na televisão, o que é praticamente o cruzamento poético ente um Vitalino Canas e um Narciso Miranda, e isso leva-me a constatar uma progressiva despavesização e consequente larkinização da vida intelectual. Apesar de ir remexendo e reciclando ser em geral bom, este movimento denota uma certa degradação da entranha pensante. Larkin é um poeta banalíssimo, uma espécie de Victor Constâncio das letras que usa o artifício inerente à língua dos gajos de Liverpool que é menos apaneleirada e dá logo um ar mais metafísico e ilusoriamente menos enconado à coisa poética. Não sei se repararam bem nesta expressão: ‘coisa poética’; é praticamente um pathos (mas não infectado com a gripe) a roçar num nostós. Arrepiando caminho, no essencial trata-se de trocar um gajo que escreve ‘molte volte ritorna nel lento risveglio/quel disfatto sapore di fiore lontani’ por outro que (e note-se, sem que ninguém lhe fosse ao trombil) escreve arrogantemente ‘ what are the days for?/ Days are where we live.’ (são os únicos versos que sei, graças a Deus). Ora basicamente, isto é passar de Caravagio a Kandinski sem passar pela casa da partida, ou seja sem apreciar um rabo boticceliano. Mas a história ensina-nos, sim a história ensina-nos a espaços, que, tal como Gabriel Alves bem notou, o factor surpresa é essencial nas bolas paradas, mas lá está, um tipo com as bolas paradas tem tendência para acumular demasiada hermenêutica nos canais peri-prostáticos, e por isso eu se tivesse frangos para criar neste momento, vendia-os já pequeninos como codornizes e dedicava-me a recitar Larkin, enquanto petiscava uns jacobinos fritos ao jantar, até porque, já se sabe, todos podemos um dia ser vítimas dum qualquer robespierre se não estivermos atentos ao factor surpresa, claro. Não se esqueçam do Pavese pela vossa rica saúde.
Tema: nenhum de princípio, algo irá aparecendo
Apenas reprimindo a ansiedade de comer uns cacahuetes, chamando à colação monstros sagrados da arte e da história e procurando produzir ténues piadolas (rima com gansos patolas, pró caso de alguém querer aproveitar) matricialmente encadeadas e tudo sem passar as 25 linhas
Neste momento fala Nelo Vingada na televisão, o que é praticamente o cruzamento poético ente um Vitalino Canas e um Narciso Miranda, e isso leva-me a constatar uma progressiva despavesização e consequente larkinização da vida intelectual. Apesar de ir remexendo e reciclando ser em geral bom, este movimento denota uma certa degradação da entranha pensante. Larkin é um poeta banalíssimo, uma espécie de Victor Constâncio das letras que usa o artifício inerente à língua dos gajos de Liverpool que é menos apaneleirada e dá logo um ar mais metafísico e ilusoriamente menos enconado à coisa poética. Não sei se repararam bem nesta expressão: ‘coisa poética’; é praticamente um pathos (mas não infectado com a gripe) a roçar num nostós. Arrepiando caminho, no essencial trata-se de trocar um gajo que escreve ‘molte volte ritorna nel lento risveglio/quel disfatto sapore di fiore lontani’ por outro que (e note-se, sem que ninguém lhe fosse ao trombil) escreve arrogantemente ‘ what are the days for?/ Days are where we live.’ (são os únicos versos que sei, graças a Deus). Ora basicamente, isto é passar de Caravagio a Kandinski sem passar pela casa da partida, ou seja sem apreciar um rabo boticceliano. Mas a história ensina-nos, sim a história ensina-nos a espaços, que, tal como Gabriel Alves bem notou, o factor surpresa é essencial nas bolas paradas, mas lá está, um tipo com as bolas paradas tem tendência para acumular demasiada hermenêutica nos canais peri-prostáticos, e por isso eu se tivesse frangos para criar neste momento, vendia-os já pequeninos como codornizes e dedicava-me a recitar Larkin, enquanto petiscava uns jacobinos fritos ao jantar, até porque, já se sabe, todos podemos um dia ser vítimas dum qualquer robespierre se não estivermos atentos ao factor surpresa, claro. Não se esqueçam do Pavese pela vossa rica saúde.
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