Desmaker residence
Check out lover
Aprimorava especialmente os rituais de saída. Entusiasmava-se a dar pormenores sobre o consumo até ao esgotamento do minibar, reflectia sobre os canais obscenos pagos à parte, sobre os cheiros a alfazema dos carrinhos das camareiras, sobre as coxas medidas pelo olhar no bar do último andar, sobre os olhares furtivos de elevador, todos eles dispensando motivos e provocando ardor; e mesmo que não lhe perguntassem desenvolvia com alguma minúcia as peripécias da sua estadia, em que nenhuma noite teria sido fria, acabando por seduzir uma plateia de grumetes, recepcionistas de saia travada e outros comensais de face corada que ficavam encantados pela forma como ele descobria tanta riqueza num banal fim de semana em meia pensão, sem sexo desprotegido, nem nenhum amor escondido numa suite com crucifixo e com vista para Valedicere, e como desencantava encantos escondidos no acto de se ir embora cantando pestanejares de canto de olho.
Mas ele era um profissional da saudade, tricotava nós na garganta, vendia sentimentos de perca a retalho, e suspiros a grosso, promovia sessões de adeus e desilusão, possuía um catálogo próprio de amores incompletos, fornecia traumas de ausência à medida e entregava ambíguos ‘the ends’ enlaçados ao domicílio. O seu cartão de visitas dizia ‘empreiteiro de despedidas’, o seu doutoramento tinha sido sobre as ‘Grandes rupturas duma alma sangrando em falta’ e assinava o cartão de crédito com o nome de ‘desfazendeiro’ deixando revelar um emparcelamento muito peculiar do seu próprio coração. Extasiava-se olhando metódica e friamente para trás, demonstrando que o abandono era o melhor negócio, partir o acto mais nobre, e que o desprendimento era a prisão mais eficaz. O seu orgasmo estava em ir-se.
Check out lover
Aprimorava especialmente os rituais de saída. Entusiasmava-se a dar pormenores sobre o consumo até ao esgotamento do minibar, reflectia sobre os canais obscenos pagos à parte, sobre os cheiros a alfazema dos carrinhos das camareiras, sobre as coxas medidas pelo olhar no bar do último andar, sobre os olhares furtivos de elevador, todos eles dispensando motivos e provocando ardor; e mesmo que não lhe perguntassem desenvolvia com alguma minúcia as peripécias da sua estadia, em que nenhuma noite teria sido fria, acabando por seduzir uma plateia de grumetes, recepcionistas de saia travada e outros comensais de face corada que ficavam encantados pela forma como ele descobria tanta riqueza num banal fim de semana em meia pensão, sem sexo desprotegido, nem nenhum amor escondido numa suite com crucifixo e com vista para Valedicere, e como desencantava encantos escondidos no acto de se ir embora cantando pestanejares de canto de olho.
Mas ele era um profissional da saudade, tricotava nós na garganta, vendia sentimentos de perca a retalho, e suspiros a grosso, promovia sessões de adeus e desilusão, possuía um catálogo próprio de amores incompletos, fornecia traumas de ausência à medida e entregava ambíguos ‘the ends’ enlaçados ao domicílio. O seu cartão de visitas dizia ‘empreiteiro de despedidas’, o seu doutoramento tinha sido sobre as ‘Grandes rupturas duma alma sangrando em falta’ e assinava o cartão de crédito com o nome de ‘desfazendeiro’ deixando revelar um emparcelamento muito peculiar do seu próprio coração. Extasiava-se olhando metódica e friamente para trás, demonstrando que o abandono era o melhor negócio, partir o acto mais nobre, e que o desprendimento era a prisão mais eficaz. O seu orgasmo estava em ir-se.
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