Psicologia à la redoute
Este último post da minha rica convidada («hóspede»! credo!?, eu já acabei o ‘desmaker residence’, pois como sabe não aguento uma série com mais de 4 ou 5 episódios) , é um autêntico manancial ( se bem que devidamente maquilhado e condensado) da genuína psicologia doméstica feminina e criou-me um apelo de registo vertiginoso à sua descodificação. O dicionário não ilustrado escolheu do texto apenas meia dúzia de elementos estruturantes ( eina, que bela expressão) que por lá navegavam fazendo crer que não tinham nada a ver com isso:
(Mas como a minha guest star não é pessoa especialmente competitiva nem devo ter direito a qualquer tipo de resposta - coisa que de resto já estou habituado)


‘repetitivas cogitações’ – A mulher tem de repetir para acreditar. Não é um problema de desconfiança, mas sim de gestão da consistência. Não é um problema propriamente de inseguranças mas sim de amor à estatística. A sua reconhecida maior dificuldade de abstractizar leva-a a ter de ‘concomitar’ para confirmar. A mulher vive em constante conflito entre a aleatoriedade da experiência e a rigidez da norma.

‘poder securizante’ – A mulher vive com mais dificuldade o livre arbítrio. Joga pior com os dados da liberdade. A sua maior necessidade de ‘aparência-de-segurança’ não tem apenas razões histórico-culturais ou anatómicas, reside essencialmente na pior gestão que faz das equações demasiado abertas, como a vida em comum, por exemplo.

‘meter nas caixinhas’ – A fortíssima propensão feminina de se perder e sobrevalorizar os pormenores, leva a que tenham de carregar sempre com mais informação do que os homens. Arranjar cantinhos, arquivos, dispensas para isso tudo é pois uma necessidade que muitas vezes vem disfarçada de organização. Para a mulher, o verbo ‘filtrar’ significa guardar em compartimentos pequeninos; escondidos, pensam.

‘encher a alma’ – Mulher que se preze fica aflita quando sente a tal de alma vazia. É do género de ir às compras e não trazer nada porque lhe estava tudo apertado. Mas como a vida nem sempre proporciona insufles automáticos para essa clássico-mitológica parte do ser, a mulher desenvolveu um método químico à base de elucubrações enzimáticas – mais ou menos explícitas - que acaba por funcionar como bomba de encher , fazendo o homem de mero interface valvular ( pipo, para ser mais explícito)

‘beijinhos de amor’ – A mulher tem imensa necessidade de catalogar os actos de carinho. Um beijo nunca será só um beijo, tem de ter um sentimento especificamente associado. O problema surge-lhe obviamente quando toca a definir esses sentimentos; nessas alturas socorrem-se dos actos de ternura que lhes são adjacentes, criando-se assim o já conhecido fenómeno da pescadinha de rabo na boca; por isso a mulher é sempre refém da circularidade na sua experiência romântica.

‘vítima adequada’ – Mas na experiência erótica, ou sexual, ou o que quiserem, já fia mais fino, e aí a mulher olha para essa experiência como uma mera etapa dum processo de serial killerização de quem a rodeia. Não é uma experiência de registo predador, ou dominador, não, como poderia indiciar às primeiras impressões, é antes a delicada construção de finos Legos onde o homem vai meramente encaixando de forma expiatória e submissa, mas julgando-se um Power Ranger.

Será que eu escrevi mesmo isto?

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