Este é um blog praticamente minimalista. Mas sempre com a porra do ralenti ligado. Não vá de arrefecer de repente.

Aquele princípio credulitário que se poderia enunciar como: devemos acreditar que as coisas são como parecem a não ser que, e até ao momento em que, tivermos indícios de que estamos enganados, leva-me a olhar para o cardápio dos dias e cada vez encontrar mais indícios de que Deus existe.

S. Tomás e outros carolas movidos de boa vontade, de tempo livre e da falta de sistemas de aquecimento central em casa, teimaram em organizar provas da existência de Deus envoltas num cruzamento de metafísica com botânica ascética, e deixaram-nas para a posteridade sem a preocupação de ir actualizando a grelha. Temendo que lhes aconteça o mesmo que à SIC, o dicionário não ilustrado faz-lhes hoje um ligeiro refreshing à luz do psicadelismo dos factos que a actualidade nos presenteia, qual milagres em formato de reality show. ( entradas 1105 a 1109 )

'Prova do movimento' – Como nada pode, para felicidade da especulação imobiliária, ser acto e potência ao mesmo tempo, é preciso alguém a dar uma ajudinha para a coisa ir mexendo nem que seja só a ponta dos pezinhos; o facto da fuga à Justiça de Fátinha ter sido apenas aparente poderia ser um indício de que algo se estaria a passar nesta histórica evidência filosófica, e tornaria alguns capítulos da Suma Teológica tão credíveis como os editoriais do Expresso, no entanto, se verificarmos com cuidado e outro alcance, nos escombros desta aventura jurídica o que sobressai verdadeiramente é isto: Alguém que seja puro acto teve e tem de ir segurando no saco azul para que o pessoal possa continuar a lá ir pondo e tirando sem aquilo se desmanchar tudo. Esta já está.

'Prova da Causalidade eficiente' – Baseados na evidência de que toda a causa é anterior ao efeito, vemo-nos agora confrontados com este sentimento de insegurança e incredulidade: o que é que Bárbara viu em Carrilho!? Ou seja, doutra forma: o que é que apareceu primeiro, a sedutora popa no cabelo, ou os subsídios do ministério da cultura, ou a explicação prática do panteísmo Espinoziano. No fundo, a verdade é que não se encontra causalidade plausível senão a de que um Ser supremo que penetre no interior dos recantos mais debilmente erotizados do nosso ser, sussurra a Bárbara e lhe diz: tu filha, larga tudo – mas podes manter o batôn encarnado - junta-te àquele tipo que monta casas de banho e darás à luz um puto que criará a maior discussão entre os comentadores. Não estou a ver outra Força capaz desta eficiência. Actualizado em conformidade.

'Prova da contingência' – No meio de tanta coisa que vai e vem, (fora os amigos disfuncionais do Nicolau Breyner que não se conseguem vir erectilmente) de facto nunca fez tanta falta um ser necessário. A queirosiana campanha alegre de Soares, aparece como uma demonstração cabal que é na necessidade que se forjam as grandes decisões, e quando estiver tudo realmente à brocha, quando o snooker dos dias apresentar mais buracos que aqueles que a razão consegue acompanhar, e andarmos com as bolas já sem sítio para tabelar, teremos sempre de nos socorrer, à semelhança do laico PS, d'Aquele que sempre soube diplomaticamente impor a omnipresença da sua sibilina ausência. Já marchou outra.

'Prova dos graus de perfeição dos entes' – Hierarquizar está-nos no sangue, e precisamos de conceber um crescendo de perfeição de seres que nos consola, e alimenta a esperança. O santo-desgraçadismo da nação-regime-civilização-estado representado, por exemplo, pelo tridente mágico dos ‘filosofo Gil – colunista Pulido Valente – economista Ernani Lopes’ já anuncia há que tempos que esta merda toda se desfazerá sem recuo num dia destes, e nem haverá cegonha sequer para apagar a luz no fim; no fundo apresentando o rumo da história como se tratasse duma mera hierarquia cronológica invertida desta perfeição. Ora aparentemente esta paulatina e sincopada caminhada para o abismo só é possível se a raça humana estiver de facto a melhorar de dia para dia, e assim a conseguir aguentar tamanha adversidade de registo quase peri-apocalíptico, conseguindo colocar as Sodomas e as Gomorras já só a enfeitar as inconsciências mais escrupulosas. Parece-me agora demasiado óbvio que esta perfeição crescente só é possível com a existência dum Ser infinitamente superior que, para além das prerrogativas da praxe, nos vá igualmente garantido a sanidade apesar destes e doutros tridentes de iluminárias esclarecidas; iluminados estes que se situarão certamente na parte intermédia da cadeia de valor da história: a idade ruminária. Despachada e actualizada a 4ª prova.

'Prova da existência baseada no governo do mundo’ - A evidência duma finalidade na realidade era o que servia de pano de fundo a esta prova. O sentido, a tendência, a noção de orientação impregnavam a lógica deste raciocínio. O facto do preço do petróleo andar a subir que até parece que enfiam viagra pelos poços adentro, para além de mostrar que as guerras se têm de pagar da mesma forma que me levaram à atrasado uma fortuna pelos candeeiros que me estão agora aqui a alumiar enquanto canta o Lionel Ritchie ali na VH1, mostra em paralelo que se tal coisa me lixa o juízo durante a semana, acaba por não interferir no preço dos pistachios que fui à tarde comprar no pingo doce e que já enfardei quase todos enquanto escrevo esta trampa. Ora isto só é possível porque de facto Algo está lá no fim do caminho, esse mesmo Ser que ainda pode, entre outras maravilhas, permitir que o Schroeder ( mesmo sem pintar já as patilhas) se amancebe com aquela outra moça e que o Hitler esteja lá num canto escuro e escaldante sem se poder rir de nada, nem do preço do pitroil, nem do Lionel Ritchie, nem do Chirac, nem do Barroso, nem do Antony and Johnsons, nem de nada. Finish.

E se ainda não acreditam é porque a cerveja que estava a beber pró fim já começou a amornar. E eu também já devo estar de tal maneira que agora acabei a ficar a ouvir quase hipnotizado o nhanhanha do ‘Getting away with it’ dos ‘Electronic’; tem mesmo de existir um Deus omnipresente e misericordioso e com muita coisa para se distrair senão a ‘energia cósmica da grande mãe natureza’ já se teria encarregue de destruir esta prosa irrelevante e enviar-me para a caminha há que tempos.

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