‘Belos e Malditos’
Prosas amaricanas
Faço um breve exercício de ociosidade não merecida, e leio, e copio meticulosa, infantil e inutilmente
«Um político que assistia a uma sessão da Câmara de Comercio pediu a palavra, mas viu a sua pretensão negada com base na alegação de nada a ver com o comércio.
-Senhor Presidente – disse um Membro Idoso, levantando-se: considero a objecção infundada. Este cavalheiro tem uma estreita e íntima relação com o comércio: ele próprio é uma mercadoria»
escrito por Ambrose Bierce (o do ‘dicionário do diabo’) nas suas fábulas, ainda no sec. XIX, ( traduzido pela Antígona ) e a pedir que fosse buscar agora o Mencken falando da adulação e da deferência servil dos políticos (americanos) perante as massas, mas a verdade é que me doem as costas, e não preciso de criar vícios de cronista da moda, e por isso viro-me para o excerto duma nova tradução recente e badalada, procurando outra América
«Assim de repente, não consigo lembrar-me de mais do que três raparigas na minha vida que me tenham impressionado logo à primeira vista por serem indescritivelmente bonitas. Uma foi uma rapariga magra num fato de banho preto que estava com grandes problemas para conseguir abrir um guarda sol laranja em Jones Beach, por volta de 1936. A segunda foi numa rapariga a bordo de um cruzeiro em 1939, que atirou o isqueiro a um golfinho. E a terceira foi a namorada do chefe, Mary Hudson»
uma américa mais cinematográfica no meio dum dos contos de Salinger ( O homem-gargalhada), e que me fez ir buscar aqueles textos pequeninos e um bocadinho doentios
«O meu nome atravessou sete gerações de homens com o mesmo nome. Cada um desses homens pôs o nome do pai ao primeiro filho. Porém, as mães tratavam os filhos pelos diminutivos, para que não houvesse confusões quando fosse preciso chamar pais e filhos, que trabalhavam lado a lado, nos campos, com trigo pela cintura.
Os filhos, contudo acabavam por acreditar que os seus verdadeiros nomes eram os diminutivos (…). Não faziam a mínima ideia de que o seu nome verdadeiro e legal estava adormecido, à sua espera num qualquer papel, em Chicago, que seria esse nome que teriam de acrescentar a «Mr» e que seria com esse nome que, um dia, haveriam de morrer»
do Sam Shepard e a deixar-me felizmente sem genica para ir buscar um tipo que até se impunha mas de quem nem gosto sequer , o sobrevalorizado Carver, e vou então refugiar-me naquele que dá o titulo ao post e que termina o seu 'grande gatsby' escrevendo que «so we beat on, boats against the current, borne back ceaselessly into the past»
não me fazendo ter vontade de mais nada senão de dormir. E aí talvez consiga um sonho em que volte a ter nove anos, encontre Mary Hudson e me mandem pôr a fralda da camisa para dentro. Sem políticos mercadoria.
[acho que não acertei no nome de nenhum escritor à primeira ....ah 'pera aí acho que acertei no Carver]
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