Um gajo, assim tipo eu faz de conta, casado, sem ser de fresco, pai de filhos, filhos esses da mulher com quem casou – reparem bem que um pai saber que os filhos são seus biologicamente é sempre um óbvio acto de fé – num casamento feliz dentro dos cânones possíveis para este conceito vago - nota técnica: um tipo não se casa para ser feliz, isto parece básico, para ser feliz um gajo vai para um convento, ou faz uma viagem de 20 anos à volta da terra, ou come pistachos ininterruptamente a ver vídeos do maradona intermeados com os do roberto baggio e os pontapés de bicicleta do negrete, ou conta anedotas porcas à desgarrada (luar opcional), ou faz cinema minimalista a gozar com o espectador e com os financiadores, ou compra uma porcaria por 10 e vende-a no segundo seguinte por 200 e o tipo que a comprou fica a pensar que fez o negócio da vida dele, ou faz pontaria com as cascas dos percebes para as jarras de cantão oferecida pela sogra, ora casar é algo que um gajo faz, ponto, está feito, ama oficialmente ( oficialmente não é menorização) alguém, ponto, ama, está combinado, juntou os trapinhos, ponto, juntou. Não é que o pessoal não goste da mulher, ou não se sinta bem com ela, não é que não se passem uns bons momentos, não é que não se retire algum proveito dessa coisa das revistas chamada ‘cumplicidade’, ou segurança, ou carinho, não é que um gajo não sinta realização físico-psicológica-sentimental (juntei o ‘sentimental’ só para desanuviar o ambiente) com o sexo versão in door, e com outras tantas coisas, ó mãe do céu, (esta jaculatória intercalar também é de teor desanuviador) mas a felicidade cheira-me sempre a uma variável que joga noutra equação ou dimensão que não esteja comprometida com a organização logística da espécie. Mas adiante, nem é este o nervo do problema, o importante é mesmo analisarmos como é que neste enquadramento um gajo se pode safar sem chatices internas e externas se quiser escrever – género para desopilar como alternativa a beber umas cervejolas que só aumentam a barriga - uns textos sobre o amor, o sexo, a paixão, as ondas do corpinho feminino, o arrepiar da espinha, o arredondar da saia, o húmus pélvico, os cabelos mal presos ao vento por um lenço colorido naquele azul vivo mas casto, a pesca de arrasto, ( sorry, não resisti) e não sendo ninguém especificamente visado, nem sequer a própria mulher por pudor ou inibição explicita em acordo pré-nupcial; então o resto do pessoal vai pensar o quê!? Que o gajo é poeta, é escritor, seria uma hipótese, … ora aí está logo um problema: isto por exemplo comigo será impossível, ninguém no seu perfeito juízo poderá pensar isso de mim, vão logo é pensar o gajo é depravado, sonso, dissimulado, sofre de ejaculação precoce, saiu à pressa dum convento, está apanhado pelos nervos, já não dá conta das amantes, está cravejado de dívidas, perturba-se com o bambolear da secretária, sei lá, parvo será o mínimo. E isto não é confortável para um rapaz com eu, que até sensível chega a ser desde que a lua não esteja em quarto minguante. E é pois assim que nascem os blogs políticos. Como este, cuja padroeira é aquela moça, tipo gaja inacessível, acho que se chama becky andersen, ó lá o raio, que apresenta as noticias da CNN. E se eu algum dia escrevesse algum texto mais fresco e inspirado, o meu advogado tem indicações expressas para afirmar que era nela que eu estava a pensar.
E topem bem nisto: um post sobre um assunto delicado sem um único palavrão! (cânone não é ordinarice, pois não?) e até sem citar o Óscar Wilde e com uma jeitosa que estava mesmo a apetecer-me.
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