Rattlesnaking

Não ter ideia de quando viria o rapaz do 'afinal havia outro' fazia-me sentir o protagonista de Memento mas sem pele para riscar o que era, no fim de contas, o busílis da questão. Colar post-its como se colasse (não resisti...) pedacinhos de jarras partidas não é exactamente a minha ideia de memória (e aqui entre nós nem tenho grande reserva e até sinto algum prazer na partilha de costas com borbulhas desde que não seja na praia, não haja muitas luzes acesas e não acabe a escrever épicos poeminhas atoleirados de cinderela adolescente sobre noite e animais parvos, digo pardos). Até que veio, numa tarde de sol sobre a colina, e sentir-me pele nas suas mãos pôs-me a pensar num jogo que me fascina: o do caminho para fazer todos os dias em que se deseje que as imagens com movimento nos aprisionem. Jogue-o comigo, leitor.

1. Pense num filme qualquer, um de que goste sem saber porquê, é necessário que não saiba, é uma exigência fundamental do jogo que proponho. Escolha a sua personagem. Prefiro um homem mas é-me indiferente, apenas preciso que a saiba fazer viver. E que seja forte suficiente para me ganhar.

2. Illia, de "Never on Sunday", realizado por Jules Dassin em 1960, será a minha personagem a partir deste momento. Ao contrário de si sei que a escolhi por esta mulher e este filme serem, respectivamente, a personagem e o filme de que sempre ouvi a minha mãe falar com emoção.

3. Tornei-me independente do homem que me criou. Daqui a momentos alguém me comprará ao rapaz que faz as recolhas para a empresa de recuperação de resíduos urbanos. Estarei nas mãos de outro homem, que me fará sua à sua maneira (poderia ser o leitor mas não convém porque a si cabe-lhe imaginar, recorda-se?).

4. É a sua vez. Jogue e ganhe-me.

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