O gajo está de volta
Eu cá palavrazinha de honra que não sei fazer rigorosamente nada senão meter-me com as pessoas, vai daí noto que já não me meto há muito tempo com quem me benzeu – se bem que sendo um bocado somítica com a água benta – e ao mesmo tempo vejo que ainda não me tinha debruçado convenientemente sobre essa nobre e praticamente apostólica missão que é escrever um livro. Vai outra vez daí e toca de me pôr de bruços – a certa altura um gajo já está por tudo desde que haja ginger ale fresquinho no frigorífico e que a porra das cuvetes não tenham verdete – e fazer a necessária síntese sobre a arte de bem cavalgar umas letras em carreirinha ( expressão da mal traçadas que está quase há um mês agarrada ao penico do napoleão). Vai daí ( 3ª vez) o dicionário ilustrado tentando agarrar um segundo fôlego de asneirismo esclarecido vem por esta via dar despacho sobre as condições sinecuecanon para escrever um livro ‘em bom e assim’, baseado em excertos – sem enxertos, que se note - do texto da Charlotte para apresentação do ‘livro da rititi’. (entradas 1040 a 1048)
‘preocupações ginecológicas' – Todos as temos, mas infelizmente nem todos têm um útero à mão para se puderem aliviar. Há quem aposte na próstata mas pode correr o risco de ficar a pingar asneira. Sacudir bem é a figura de estilo que nos redime do amarelecimento do raciocínio.
‘partilhar angústias e alegrias’ – Ora aí está algo que deve ser mesmo partilhado, somos todos um condomínio fechado de emoções e a dividir por todos nem custa nada, mas já se sabe que há sempre uns que têm mais infiltrações que outros, e o segredo está em acertar com as permilagens e com as zonas de serventia comum.
‘escrita sincera’ – espécime erudita do ‘caralhos me fodam se isto não m'aconteceu’ e que é garantia duma escrita praticamente sacramental, contrita e de forte apelo à santidade e reconversão.
ser ‘infinitamente interessante’ – Apesar da palavra ‘interessante’ me fazer comichões de registo quasi convulsivo, o ‘infinitamente’ garante-lhe uma cosmicidade, uma alavanca que nos arquimediza a imaginação tornando-a praticamente uma catapulga, perdão cataputa, perdão carapuça, foda-se: catapulta da existência.
‘graças a Deus’ - Algo que ninguém deve desdenhar, e que já vi produzir autênticos milagres fazendo chegar o predicado com o pé, onde certos adjectivos nem com as duas mãos.
‘exagerar o quotidiano’ – Dado que não nos é possível gerá-lo por motivos técnicos – mira técnica (que saudades, meu Deus!) opcional – temos de fazer com o quotidiano o que a minha mulher faz sempre com o bolo de chocolate do carrefour : aquela merda sai sempre de fora da forma. Ela diz que é da porra do forno. Mas sem o ‘porra’.
‘transcender a nós próprios’ – De facto sermos apenas nós próprios é algo de uma sensaboria sem descrição, e há inclusive tipos que já vi nem serem eles próprios; ora vejamos que pegando em duas de transcendência com uma de colorau... bem agora rimava, mas fico-me por aqui.
‘escrever bem’ – O verdadeiro fascínio da espécie; aquele momento mágico em que o cerebelo tem um arranjinho viscoso e suado com a espinal medula e os neurónios até vibram que nem um cavaquinho. Desembainhado então o florete verbal com a lustrosa mielina, sai verborreia tão santa que os anjos comparados connosco mais parecem mongois a dar arrotos num piquenique.
‘ter alguma coisa para dizer’ – É este o definitive statement : uma alma prenhe que se solta como uma foragida enraivecida. ‘Ter algo para dizer’ é efectivamente um climax existencial, praticamente o sinal duma revolução genética, uma mutação cromossomica só ao alcance dos melhores batidos de esperma em proveta. Uma língua que se solta é uma gengiva que se poupa. Que Deus me castigue já aqui, isto é um desabafo, mas quando eu tiver realmente alguma coisa para dizer, vocês segurem-me que vai parecer as bodas de Caná.
Eu cá palavrazinha de honra que não sei fazer rigorosamente nada senão meter-me com as pessoas, vai daí noto que já não me meto há muito tempo com quem me benzeu – se bem que sendo um bocado somítica com a água benta – e ao mesmo tempo vejo que ainda não me tinha debruçado convenientemente sobre essa nobre e praticamente apostólica missão que é escrever um livro. Vai outra vez daí e toca de me pôr de bruços – a certa altura um gajo já está por tudo desde que haja ginger ale fresquinho no frigorífico e que a porra das cuvetes não tenham verdete – e fazer a necessária síntese sobre a arte de bem cavalgar umas letras em carreirinha ( expressão da mal traçadas que está quase há um mês agarrada ao penico do napoleão). Vai daí ( 3ª vez) o dicionário ilustrado tentando agarrar um segundo fôlego de asneirismo esclarecido vem por esta via dar despacho sobre as condições sinecuecanon para escrever um livro ‘em bom e assim’, baseado em excertos – sem enxertos, que se note - do texto da Charlotte para apresentação do ‘livro da rititi’. (entradas 1040 a 1048)
‘preocupações ginecológicas' – Todos as temos, mas infelizmente nem todos têm um útero à mão para se puderem aliviar. Há quem aposte na próstata mas pode correr o risco de ficar a pingar asneira. Sacudir bem é a figura de estilo que nos redime do amarelecimento do raciocínio.
‘partilhar angústias e alegrias’ – Ora aí está algo que deve ser mesmo partilhado, somos todos um condomínio fechado de emoções e a dividir por todos nem custa nada, mas já se sabe que há sempre uns que têm mais infiltrações que outros, e o segredo está em acertar com as permilagens e com as zonas de serventia comum.
‘escrita sincera’ – espécime erudita do ‘caralhos me fodam se isto não m'aconteceu’ e que é garantia duma escrita praticamente sacramental, contrita e de forte apelo à santidade e reconversão.
ser ‘infinitamente interessante’ – Apesar da palavra ‘interessante’ me fazer comichões de registo quasi convulsivo, o ‘infinitamente’ garante-lhe uma cosmicidade, uma alavanca que nos arquimediza a imaginação tornando-a praticamente uma catapulga, perdão cataputa, perdão carapuça, foda-se: catapulta da existência.
‘graças a Deus’ - Algo que ninguém deve desdenhar, e que já vi produzir autênticos milagres fazendo chegar o predicado com o pé, onde certos adjectivos nem com as duas mãos.
‘exagerar o quotidiano’ – Dado que não nos é possível gerá-lo por motivos técnicos – mira técnica (que saudades, meu Deus!) opcional – temos de fazer com o quotidiano o que a minha mulher faz sempre com o bolo de chocolate do carrefour : aquela merda sai sempre de fora da forma. Ela diz que é da porra do forno. Mas sem o ‘porra’.
‘transcender a nós próprios’ – De facto sermos apenas nós próprios é algo de uma sensaboria sem descrição, e há inclusive tipos que já vi nem serem eles próprios; ora vejamos que pegando em duas de transcendência com uma de colorau... bem agora rimava, mas fico-me por aqui.
‘escrever bem’ – O verdadeiro fascínio da espécie; aquele momento mágico em que o cerebelo tem um arranjinho viscoso e suado com a espinal medula e os neurónios até vibram que nem um cavaquinho. Desembainhado então o florete verbal com a lustrosa mielina, sai verborreia tão santa que os anjos comparados connosco mais parecem mongois a dar arrotos num piquenique.
‘ter alguma coisa para dizer’ – É este o definitive statement : uma alma prenhe que se solta como uma foragida enraivecida. ‘Ter algo para dizer’ é efectivamente um climax existencial, praticamente o sinal duma revolução genética, uma mutação cromossomica só ao alcance dos melhores batidos de esperma em proveta. Uma língua que se solta é uma gengiva que se poupa. Que Deus me castigue já aqui, isto é um desabafo, mas quando eu tiver realmente alguma coisa para dizer, vocês segurem-me que vai parecer as bodas de Caná.
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