Reinaldo Ferreira VII

Se eu soubesse que o olhar de toda a gente
Te via, por milagre, repelente,
Que fugiam de ti como da peste...

Nem assim abrandava o meu ciúme,
Que é afinal o natural perfume
Da flor do grande amor que tu me deste.

In ‘Se eu pudesse guardar os teus sentidos’ de R. F.

No dia em que o ciúme desaparecer, o amor passará também a ser uma percentagem do PIB. Virá então uma comissão analisá-lo e chegará à conclusão: temos de cortar rente, sacrificar amizades e aumentar nas cobranças. ‘Apertaremos o cinto’ e nunca mais ficaremos ‘com as calças na mão’. No limite amaremos todos por igual em regime de duodécimos. Ninguém se ficará a rir de ninguém. Para além disso os 6,83 de deficit parece-me um número bem conseguido dado que esgota todos os algarismos atrevidamente arredondados – repare-se que o ‘seis’ é o ‘nove’ ao contrário por muito que nos possa custar e fazer mal às costas, e o ‘zero’ praticamente nem é algarismo tanto mais que foi descoberto pelos árabes – e eu cá quando tiver uma carência afectiva ela também será de 6,83% do total de carinho disponível no mercado (para além disso, o deficit, ao manter os ‘três’- mesmo que do outro lado da vírgula - dá-nos um sinal de esperança, pureza e decência). Estarmos feitos num ‘oito’ parece-me já duma evidência incontornável. O consolo é que deitados tenderemos para infinito.

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