Conto deles de lado ali

Ela acabou por se sentar num banco de jardim. Praticamente já não há contos em que elas se sentam em bancos de jardim, ali, assim, para ser admiradas de perfil, mas eu vou dar um jeito nisso, vou-me sentar ao lado dela, mas calma vou ter juízo, e até fica mais genuíno, torna as coisas mais fáceis, eu faço de beduíno e ela será o oásis, só os separa o olhar, o deserto do olhar, é ondulante o olhar, como as dunas, claro, só que eles estão num jardim, e vão ter de falar de pombos, já me esquecia, ele hoje sou eu, para variar, dá-me jeito, aconchega-me o peito, vocês vão-me desculpar, mas vocês não existem, claro, isto sou eu a sonhar, mas as coisas agora vão acelerar, ela é muito bonita e ele nunca a tinha visto de perfil, é daquelas coisas nunca tinha calhado, mas ele, que sou eu, não era de ficar engasgado, fingia olhar para as pombas, armava-se em engraçado, sacudia-se um bocado – ainda tombas, praí – isto foi o meu lado narrador a dar de si, atormentado pelo ciúme, de não poder ser olhado por ela, és narrador, lavas mas não fazes parte da barrela, deixemo-lo e voltemos ao jardim, aí sim, um sítio em condições, mas ela ainda tinha as mãos meio escondidas, e ele já não passava sem as mãos dela, sem milho mas com brilho, rima fatela, os pombos que se lixassem, ela era tão gira de perfil, mas agora não me macem , destes contos escrevia uns mil, mas depois vocês não davam vazão, é que basta-me um olhar e um coração, sim esse lugar distante, que transforma o pouco em bastante, longínquo se calhar, gémeo do luar, mas ali à mão de semear.

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