“Amo-te Portas”

uma cadeia de bares só para costureirinhas



Está ali que nem precisa dum arremate, nunca há bainha que o atormente, nem precisa de debrum, porque a casa e o botão parecem os dois em um, e abençoados os pespontos que lhe fiz naquela nobre cabecinha flor-de-lis; E quando o fui casear, vi que tudo nele faz sentido, que nenhum fio fica solto, nenhuma debutante resiste a um pedido, e até parece que veste cetim mesmo com um trapo revolto; com ele toda a rosa arredonda a saia, e toda ela arredonda bem, é q´ele não é da vossa laia ó meus filhos da mãe. Quando o levei a ver-me orlar, e ele pôs o dedo em riste, aquele dedo feito divino sinal que nem precisa de dedal, e até o fio se enrolou na agulha, credo, que convicção, até se me tremeu a mão, meninas segurem-me que eu estou a perder o tino com tanto brilho, tanto empolgamento, lembra-me a minha mãe no dia do casamento. Saiam-me daí, sou eu que lhe vou tirar as medidas, e quando chegar ao imaculado tronco que lhe envolve o largo coração, vou-lhe pedir para respirar fundo, e se a fita métrica não chegar, acabarei de medir com o que corpo me mandar. Faça vento, faça sol ou faça chuva, será sempre com aquela popelina que nos devemos resguardar, a que não desfia a cortar, nem debota a molhar, e nunca fica ruça com o uso, ó meu rico fuso, anda cá para eu me picar.

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