O Outono é também a estação da razão. Mas nem toda a folha que cai é fruto duma estruturada poda. Muitas vezes até se deve mais à precipitação da posição. Ou até à mera gravidade da situação. Hoje, está visto, deixei o kamasutra e passei a Newton, ou melhor dizendo, a um novo tom.



(Cantinho do desfazedor arrogante: já repararam que com este título até já se fazia um post jeitoso nalguns blogs mais iluminados pelo sincretismo. Aqui para compensar o deserto de ideias tem de se fornecer um texto de brinde)



Agora então um post com cabeça, tronco e membros. Não me responsabilizo pelo resto dos apêndices.



Outra coisa sobre a qual também é muito fácil escrever ( para além de sexo) é sobre política e actualidade. O percurso é simples e é este: Tudo se resume à questão de começar por explorar aquela coisa que parece sempre existiu mas que, foi-se a ver, ainda teve de ser descoberta que é a “perspectiva”. Acho que todos podemos ter uma e até em conta, e não a devemos desperdiçar, toca pois a usá-la forte e feio, ou pianinho e bonitinho conforme os gostos e o feitio. Dizem os mais entendidos que se demonstrarmos em público que temos uma perspectiva própria é meio caminho andado para virmos a ter também direito a um decente “enquadramento”, o que vistas bem as coisas nos torna seres mais decorativos e que portanto ficam bem em qualquer sala. Possuirmos assim uma perspectiva pessoal e ainda para mais acompanhada dum enquadramento, fará certamente despertar em nós o sonho de até vir a ter “impressões” sobre as coisas. É este então um estádio mais sofisticado da abordagem do real e que bem pode chegar a levar-nos a colorir a nossa existência e a dos que nos rodeiam. Dizem os que já experimentaram - eu não sei porque praticamente nunca tive uma impressão ( tirando a do BI claro está) - que esta postura perante a realidade leva a ver coisas que mais ninguém vê e quase já houve quem lhe chamasse arrojadamente “intuição”, mas depois desistiram, porque ficou demonstrado que as mulheres é que tinham mais disso, mas como o mundo é coisa de homens foi assunto encerrado. Resumo, e em conclusão: Partindo duma boa impressão devidamente enquadrada numa perspectiva correcta, estamos praticamente prontos para olhar para a actualidade como finos descodificadores, verdadeiros davinces destes sfumatos tempos modernos.



Assim artilhados, pensemos agora sinteticamente num assunto concreto a título de ensaio: os canditados-presidenciais americanos; Bush, por exemplo, aparentemente não teve a sua Mónica, que não teve, mas conseguiu ter uma coligação ( aqui a palavra brasileira “broxada” caia que nem ginja ) a seus pés. Quanto a Kerry, por exemplo, tudo leva a crer que não vai manchar as mãos com o sangue da guerra, que não vai, mas estará sempre refém do ketchup da mulher. Analisemos então estas duas conclusões ( peço desculpa por ser a preto e branco): Qual foi a perspectiva usada: Foi a relação homem-mulher. Qual foi o enquadramento: a atitude perante a guerra. Qual é a impressão que fica : que eu sou um grande estúpido. Vamos ainda a outro exemplo concreto: Santana Lopes não foi eleito directamente pelo povo em êxtase sufrágico, que não foi. Mas reparemos, acabou por se evitar in extremis que os primeiros-ministros pudessem ter sido nomeados pelo programa de computador do Min.Ed.; estaríamos pior, pois poderíamos ver colocado em S.Bento um estagiário tipo Luis Delgado, um jornalista-economista-residente tipo Perez Metello, ou um economista-penitente-residente tipo César das Neves, e/ou até um professor de filosofia a ensinar ginástica, tipo o Prof. Dr. Eng. Astrónomo J. Pacheco Pereira a tentar convencer o P. António Vieira a vir cá fazer um biscate como ministro sem pasta. Qual foi pois aqui a perspectiva usada: a ligação amorosa não consumada entre eleitor-eleito; Qual o enquadramento: o tipo de anti-conceptivo, e a sua eficácia, utilizado nessa relação; Qual a impressão que fica: outra vez que eu sou um grande e irrelevante estúpido.



Moral provisória destas histórias: o trinómio perspectiva-enquadramento-impressão não chega para sermos pessoas crescidas, responsáveis, úteis e respeitadas pela sociedade. Tudo depende duma outra coisa viscosa que anda pelo meio e que tem a sofisticada ( bela palavra ) designação de “pachorra”. E agora eu não estou a conseguir arranjar dessa merda nem enfrascada, nem a granel. Tenho constatado, no entanto, ao longo da vida, que há tipos que fazem verdadeiros milagres apenas com as impressões que vão tendo e muitos nem precisam de se coçar, ou têm quem se coce por eles, o que vai-se a ver, é bem mais discreto.



Só que tenho de reconhecer...parem as máquinas: eu agora repentinamente deu-me uma impressão! Fiquei pois com a impressão de que nós somos governados ou por uma cambada de garotos ou por uma pandilha de grandessíssimas "putéfias". Mas que raio, vejo agora, que faz todo o sentido! pois também era destes que Jesus “dizia” sentir-se mais próximo, ora deixando-se acariciar pelos gestos do arrependimento da pecadora ( procurem em Lucas VII - qualquer coisa, que eu agora de repente não estou a ver) ora chamando a si os pequeninos e dizendo que deles é o reino dos céus ( ainda em Lucas lá-mais-prá-frente no XVIII - qualquer coisa). Tudo começa de facto a fazer sentido: Jesus não nos faltes agora.



Bem...acabou por se perder, está mais que visto, uma visão esclarecida sobre a actualidade a que os leitores destas águas furtadas teriam direito, e a que até estão bastante habituados, mas pode ser que se ganhe o sossego de espírito próprio dos parvos ou dos iluminados.



E, se calhar, vendo bem podia ter ficado só pelo título.

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