Somos seres de condição condicionada. Temos tendência a fugir do comboio fantasma da simplicidade. E acabamos o dia estragando o marfim a lamber algodão doce.

Quem tem medo de sentimentos fortes acaba muitas vezes encolhido no tupperware da conveniência, que muitas vezes ainda está enfiado no saco térmico do palavreado.

O novo dicionário não ilustrado leva hoje a alma humana outra vez a engomar antes do beberete. (entradas 548 a 557)



Agradecer - Estado de alma negligentemente mastigado pela convenção, mas sempre delicada e deliciosamente digerido pelo coração



Desculpar – A ruga que pode ser temporariamente disfarçada pelo vapor da sobranceria, só sai verdadeiramente quando os tecidos da alma são elásticos e em todos os sentidos.



Pedir desculpa – Situação em que o batalhão ou morre na praia do fingimento, ou passa pelas linhas do inimigo deixando-o impotente e boquiaberto.



Despedir-se – Acto de quem tem medo de estar presente e de quem tem coragem de estar ausente.



Oferecer – Acto que fica mal vincado quando é passado a ferro pela ambiguidade, mas que se liberta nos borrifos da sinceridade.



Receber – Situação inesperadamente dolorosa que só se explica pelo medo de que agradar possa ser anestesiante para quem agrada.



Desconfiar – Refúgio de incompetentes que sempre acocorados de medo acabam também enchendo o coração de varizes



Confiar – Luxo de alma campeã, que despreza o campeonato das 2ªs intenções



Descobrir – Quando se encontra alguém que nos leva a dobrar o Bojador, e que nos ameniza o cabo das tormentas



Perder – O puro acto condicionado. É que a posse é a madrinha de todos os vícios.

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