Gosto de mulheres de sorrisos esquisitos. Daqueles que parece que estão sempre a gozar connosco. De lábio “entaramelado”. Misturas da René Zellweger com a Frances Mc Dormand (se um tipo não vai avançando com os nomes dumas actrizes, ainda o tomam por tosco). São sorrisos um bocadinho ordinários, claro. Um bocadinho provocadores, claro. Um bocadinho negligé, claro. Um bocadinho distantes, claro. Mas são feios os sorrisos perfeitos. São feios os sorrisos que não deixam dúvidas. São feios os sorrisos puros. Mas isto é tudo treta. Verdade verdadinha é que o mundo olha para nós com o sorriso de uma mulher. Hoje o novo dicionário não ilustrado só pede ao mundo: “me saca um carinho vai”. ( entradas 558 a 568)
Sorriso assustado – Quando o mundo se espanta com o que fazem com ele, mas como não tem capacidade de reagir, encosta-se à fatalidade de não poder mudar de órbita quando lhe apetece. Desforra-se trocando sistematicamente a tonalidade do batôn ao pôr-do-sol.
Sorriso arregalado – Quando o mundo se delicia com o que fazem dele, mas está sempre à espera de mais, ou porque se tornou insaciável ou porque se habituou a um nível de vida dos diabos. Geralmente vêm acompanhados de um pestanejar suave que nos faz tombar a cabeça.
Sorriso terno – Quando o mundo nos quer acariciar, e nós muitas vezes andamos distraídos comendo apenas fruta da época e a queixarmo-nos da azia.
Sorriso desconfiado – Quando o mundo topa que temos a sonda a catrapiscar outra, e nós dizemos-lhe que só andamos a ver se descobrimos se ela tem água.
Sorriso traiçoeiro – Quando o mundo finge que nos acolhe e afaga, mas depois vem-se a saber que dorme elipticamente com uma corte de satélites invejosos que se usam mutuamente a seu bel-prazer
Sorriso pungente – Quando o mundo nos suplica para tomarmos conta dele porque já não tem mais ninguém em quem confiar, nem ninguém para lhe preparar o banho de espuma.
Sorriso assustador – Quando o mundo nos quer levar a fazer o que nós ainda nem sequer cogitamos, e se o suspeitássemos até preferíamos viver montados num cometa a comer só omeletes de cebola.
Sorriso indiferente – Quando, façamos o que fizermos, o mundo passa bem sem nós, e se lhe apetecer até muda a cor do cabelo sem avisar
Sorriso escondido – Quando o mundo se esconde no penteado dos dias, que assim vão passando despercebidos sob uma franja comprida de ilusões.
Sorriso matreiro – Quando o mundo sabe que nos vai enganar nas compras e desfruta da nossa ingenuidade peregrina
Sorriso de “piscar d’ olho “ – Ambiguidade das ambiguidades. A pálpebra do mundo nem sempre segue os instintos do coração dos homens.
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dicionário não ilustrado
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