Todos nós temos o secreto desejo de que os tratados de moralidade se inspirem na nossa nobre alma. A política moderna resolve também esse problema, estando sempre com a mão na consciência. O novo dicionário não ilustrado seguiu esse processo ( entradas 199 a 207 )



Consciência tranquila – Estado de hibernação moral em que o grande sono do bem estar se sucede ao desconforto de uma vigília demasiado exigente.



Consciente da realidade – Estado extremamente perigoso, onde a excitação pode tomar o lugar geralmente ocupado pela estupidez. Só que a estupidez já estava bem acamada, pouco se mexia, e agora a consciência vai ter que, alvoroçadamente, fazer o ninho outra vez.



Consciência do dever cumprido – Momento de rara felicidade, geralmente vivido junto ao espelho, ou de rara micose no couro cabeludo sentado a uma secretária com uma folha de papel em branco.



Consciência Limpa – Estado asséptico e letárgico alcançado à base de purgas sucessivas, efectuadas à custa das consciências alheias que ficam conspurcadas sem saber como



Consciência pesada – Situação em que, por falta de válvula de escape apropriada, a compressão do juízo moral transforma um acto banal numa política social



Consciência do dever – Característica dalguns predestinados que lhes permite saber em qualquer momento, qual o buraco bem mobilado em que se podem meter, se a radioactividade da crise atingir o nível de “alerta vermelho”.



Consciência de classe – Tipo de consciência aparentemente caída em desuso, mas que tem vindo a ser recuperada face ao endividamento sufocante, ao sucesso dalguns na especulação imobiliária e às revistas de sociedade.



Inconsciência – Fatalidade que acomete certos actos da governação, desviando-os do nosso próprio e legítimo benefício, e que alargam a felicidade dos malandros que nos atrapalham o caminho



Agir em consciência – Acto falho. Quanto o garanhão da vontade própria renuncia perante o obstáculo do “dever por encomenda”.

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