Confissões monologadas de um futuro ex-ministro no “corredor da morte



Eu acho que sou praticamente um homem bom.

Vivo embalado pela minha honestidade. A minha consciência está tão tranquila que só de pensar na maldade ( a dos outros claro ) me dá convulsões.

Angustia-me que se possam suspeitar de que eu tenha prejudicado alguém. Para mim todos os homens são iguais. Até as mulheres também são. Condescendo alguma diferença para os bichos. Mas trato-os como irmãos.

Nunca fugi das minhas humildes responsabilidades. Até já me pediram muitos favores. Mas eu não sou de favorecer ninguém. Fico com pânico de que outra alma indefesa possa ficar apeada dos seus direitos. Sou assim pronto. Até dizem que sou socialista.

Como eu gostava que todos pudessem ter acedido às oportunidades que eu tive. Se calhar é por isso que há pessoas tão revoltadas. Mas nada justifica a sermos vingativos. E às vezes dá no que dá. Desgraças.

É pena a sociedade não ser como eu. Até aprendi a amar as diferenças e ter com elas o encantamento do encontro. É isso a felicidade. E está ao alcance de todos os que têm boa vontade. E querer é poder como eu costumo dizer.

O meu sonho é ser entrevistado para a revista XIS; se uma daquelas jornalistas do glória fácil me perguntasse o que era amar, eu dizia-lhe que era ser eu próprio.

Nunca menti. Tenho a verdadeira obsessão da verdade, mesmo que não seja compreendido. Prefiro prejudicar-me a atraiçoar a verdade. Aqui sim, sou intransigente. Já sustive muitas vezes as lágrimas, para não fazer sofrer mais ninguém.

Só me dilacera que desconfiem de mim, porque eu sou de muita confiança. As pessoas conhecem-me, eu era incapaz de fazer mal a alguém.

Se calhar a recompensa que vou receber é virarem-me as costas. Mas nunca peço nada para mim.

Pode parecer falsidade, mas eu sou mesmo assim.

Se calhar foi da educação que tive, ou então é do bichinho do bem que eu tenho cá dentro.

Sem comentários: