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A saga continua
Parte II – A enfardadeira automática
Cruzes! Jamais a expressão “enfardadeira automática” foi, é, ou será um insulto. E pior seria se eu insultasse alguém que não conheço, e a quem até devo agradecer pelos textos que produz, e pela fermentaria de ideias que suscita
Mas eu por acaso gosto de enfardadeiras.
Ainda noutro dia comprei uma HSM 12 Gigant que me custou uns 2000 contos ( foi em leasing). É da HSM Pressen gmbh, e até tem sido muito jeitosa.
Uma enfardadeira, ou compactadora, é um equipamento empolgante porque transforma um amontoado balofo de coisas num volume condessado e reduzido; coisas essas que dispersas fazem imenso transtorno, ocupam um espaço despropositado, e incapacitam-no para outras utilizações mais interessantes e produtivas. Não poucas vezes ficaríamos com essas coisas na mão sem saber o que fazer com elas. Como com a própria história.
Todo o “material” fica portanto reduzido a um concentrado suavemente cúbico e de fácil manuseamento.
Uma enfardadeira automática tem um mérito muitas vezes menosprezado: organiza o que aparentemente era a pura arbitrariedade. Estimula a racionalidade na utilização dos recursos escassos e favorece o gosto pela simplicidade.
Tratar os factos assim tem o mesmo efeito : reduz espaço, homogeneíza aparentes contrários e os “rabos de fora” nunca ficam completamente soltos : é uma limpeza.
Há uma outra consideração que vale a pena fazer : Deveremos escolher um compactador horizontal ou um vertical ? ( a questão não se põe só nos orgasmos, como se vê )
Os compactadores verticais têm uma vantagem : ocupam menos espaço e destinam-se a pequenas e esporádicas quantidades. É algo que, no fundo, está sempre ali à mão, não é necessário estar a reunir grande montantes de material, pode-se ir compactando à medida das necessidades. Vamo-nos pois descartando de pequenos lotes de história que se nos vêm acorrendo à mente e que, depois de uma ligeira compactação, cumprem a sua função e vai daí podemos seguir o nosso caminho mais descansados e aligeirados.
Quanto aos compactadores horizontais, estes são de maior porte, visam e rentabilizam-se em trabalhos mais sistemáticos e pesados, mas exigem uma logística consistente e profissional. Associo-os mais aquelas situações em que temos grandes quantidades de dados que pretendemos formatar; com um trabalho bem preparado conseguimos num curto espaço de tempo pôr no mesmo fardo: Asterix, S.Paulo, o pipi.... de Orígenes e eventualmente a padeira de Aljubarrota. Nem o recorrente Deleuze vai tão longe nas sua “ligações entre diferentes” como as prensas enfardadeiras automáticas horizontais.
Estes equipamentos, faço agora um pequeno aviso, trazem uma armadilha : o preço dos consumíveis. As fitas de cintar em plástico de alta tenacidade são caras, mas essenciais. A compactação tem de ser sustentada e bem contida. Com os factos históricos também ocorre o mesmo, a sua compactação deve ser envolvida num fio tenso de pressupostos ( designação técnica para preconceito ) sem os quais poderiam ficar factos soltos sem a devido enquadramento. O nó final geralmente obtém-se por “prisão” ou soldadura ( nome técnico para sofisma) ( o Américo vai-me cilindrar...., mas é bem feito !)
Outra das características destas prensas compactadoras e enfardadeiras é que são automáticas. Ou seja, o trabalho é efectuado com uma intervenção humana muito reduzida. Ao automatismos estão programados, as entradas e as saídas não levantam dúvidas. Na compactação dos factos históricos isto também facilita bastante porque não é preciso saber se temos de apertar muito ou não: a força é pré-calculada. O “deslize de um herético pré-niceano” irá apertar bem com uma “exortação apostólica mais arrojada”, sem esmagar nenhuma em demasia e sem ficar nenhuma “bem-aventurança” mais bicuda a atrapalhar pelo meio.
O automatismo destes equipamentos revela também outra faceta importante : o quão inexorável é a máquina. Ou seja, uma prensa enfardadeira nunca fará outra coisa senão compactar. Dificilmente a veremos a encher frascos de shampoo ou a serigrafar embalagens de detergente. Na mesma medida, os dados históricos ao ser compactados também terão pouca probabilidade em se transformarem em ideias luminosas ou ventos inspiradores.
Há no entanto uma outra virtude no processo de enfardar : os diversos materiais compactados mantêm a sua identidade, nunca perdem a sua autonomia ontológica. Um lata de cerveja bem encostada a um caixa de cartão canelado, mesmo que transfiguradas, continuam a prevalecer como algo de muito próprio. É também por isso que, mesmo bem esmigalhados um no outro, S.Paulo continua diferente de Marcião ( que até podia bem ser defesa do Benfica...) e qualquer evangelho ( mesmo feito por encomenda) continua diferente das selecções do Readers Digest
Fica aqui manifestamente demonstrado que o homem quando inventou a enfardadeira automática, nem suspeitava dos insondáveis planos que Deus tinha para ela.
E esta divagação, que para além de também poder concorrer para o post mais longo sobre enfardadeitas automáticas, suscita-me que o processo de “mistura” seguido da “centrifugação” talvez acabem por ser os melhores para juntar os dados da história. A ver vamos. A qualidade do Cruzes assim o exige.
Ah.. é verdade Cruzes canhoto, “intervenção divina” é a expressão inglesa para “etcetera”. Só que isto não vem num dicionário qualquer, nem nos livros de história da igreja. ( os gajos dos telefones são uns espertalhões)
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