Tentativa de criar um novo imaginário nacional pela via da inseminação artificial
Pegamos em esperma do género “ Dar novos mundos ao mundo”, associamo-lo a uns ovários do género “Jardim à beira mar plantado” , misturamos bem, e enviamos por “Mares nunca dantes navegados”. Obteremos uma ovulação de primeira.
O “Génio empreendedor e aventureiro” deverá ser introduzido logo na primeira papa, só que a “Auto–comiseração” aparece servida com as sopas de legumes....
A “incompreensão dos outros” é recomendada logo pelo pediatra, mas uma senhora disse que se devia juntar com o “Somos muito bons a desenrascar”.
O boletim de vacinas é que ainda é dos antigos...exige uma bateria com três doses de “ Gostamos de viver a vida” , “Isto não pode ser só trabalhar”, “ Os outros é que não sabem fazer mais nada”. Estou a ficar temeroso...
O “ Lá fora somos dos melhores” dizem que só deve ser administrado em casos de risco , mas funciona muito bem.
Nos primeiros anos de vida o ortopedista recomenda o uso de ideias para corrigir o andamento : “Fomos donos daquilo e não aproveitámos” e depois “Os outros souberam ficar lá, agente entregou aquilo tudo” . Ao fim de um ano está – em princípio – apto para o uso de “ Temos uma grande capacidade de adaptação”...mas pode-se ficar coxo.
A escolaridade obrigatória inicia-se com “ Os nossos políticos raramente tiveram visão e génio” ( manual da praxe ) e ao fim do primeiro ano já se consegue “ Somos é um país de poetas”.
Alguma formação extra-escolar de almanaque faz desembocar no “ Podíamos ter um papel importante no mundo” e estudos mais elaborados transportam-nos irremediavelmente para “ Se não nos subjugámos aos espanhóis é porque temos uma grandeza específica”.
Passam os anitos rápido...e quando as terapêuticas de pré-adolescência parecia que iam safar isto... acabam por fixar a marca do “Somos muito invejosos” .
O fedelho vai-se manter muitos anos neste estado imberbe. Nem está a lidar bem com a coabitação da “Resignação” com a “Euforia”...
Porra. Não estou a conseguir.
Não é fácil criar um imaginário nacional, nem partindo da proveta.
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