Pela reabilitação da inveja
A inveja é um pecado demasiado mal amado.
E logo em simultâneo pela moral, pelos costumes, pelos imaginários. Só a policia ainda não lhe chega ( soprando para o balão não acusa...).
E como se tal não bastasse, ninguém lhe dá uma palavra amiga e todos arrepiam caminho a deslindar-lhe as mais funestas consequências e perversões.
Malandrices como a gula, a preguiça, a avareza e a vaidade até dão para pavonear, mas a desgraçada da inveja não se livra nem da letra do catecismo nem do verbete do intelectualismo acossado .
O próprio ciúme já foi reabilitado pela psiquiatria e pelo lirismo do jogo amoroso, mas a inveja permanece com estigma e sem ciência nem poesia que a alivie.
Só que no "intimo do nosso ser " o mecanismo da inveja é inelidível, e não é uma pulsão de morte, é antes uma força livre , que tem de ser orientada e acarinhada para que possa dar em virtude e bom caminho.
Primeiro toda a inveja é reveladora, abre as brechas do “para além de nós”, e estimula constantemente novas auto-avaliações .
Depois é genuína, dissimula-se mal, podemos orientá-la desde os primeiras ocorrências.
Para além disto desenvolve-nos um amor próprio muito especial , porque saberemos sempre que fomos atrás “do outro”, e, portanto, é mais fácil manter a soberba em níveis controláveis.
No fundo é uma questão de dose, de ingredientes bem escolhidos e de saber tirar do lume no momento certo.
« Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pelo mal do próximo, e o desgosto causado pela sua prosperidade “ diz S.Gregório Magno . Ficará bem estabelecer aqui umas balizas : Não roubar, não difamar, não obstruir. De acordo. Mas o que é isso do «mal do próximo»?...Como evitar certos «desgostos»!?... Não me parece que seja o determinante.
Determinante é a moderação, o uso de meios legítimos, ....ser regrado.
E fugir aos efeitos perversos : da tristeza, da cobiça desordenada, do apego irracional à futilidade.
Detecto ainda na inveja uma boa característica : ela é socialmente estabilizadora . Permite a evolução com equilíbrios, como entre as aranhas e as moscas. A teia invejosa apanha muitas vezes moscardos que só nos iam fazer borbulhas.
E como até ficamos de olhos arregalados com um invejoso de classe!!!
Invejar é purificador!!
Não é a simples e ensossa ambição, é ter energia e tentar não a desperdiçar com a mera luminosidade.
Não é um corriqueiro catalisador da motivação, mas sim uma intratável e persistente memória. Daí o seu perigo.
Sejamos económicos no seu uso, e no seu acuso.
But.. ..be sophisticated please !…
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