Quem lhes dera ser Kundera
Quando li as referências a Kundera na Montanha Mágica lembrei-me de uma passagem de “ A insustentável leveza do ser “, livro que dispensa os elogios.
Tem muito a ver com este fenómeno dos blogs.
“ Todos nós temos necessidade de ser olhados. Podíamos ser divididos em quatro categorias consoante o tipo de olhar sob o qual desejamos viver.
A primeira procura o olhar de um número infinito de olhos anónimos ou, por outras palavras , o olhar do público. (...) Para ele ninguém podia substituir os olhos anónimos. (...)
Na segunda categoria, incluem-se aqueles que não podem viver sem o olhar de uma multidão de olhos familiares. São mais felizes que os da primeira categoria porque, (...) acabam sempre por conseguir arranjar os olhares de que precisam. (...)
Vem em seguida a terceira categoria, a categoria daqueles que precisam de estar sempre sob o olhar do ser amado. A sua condição é tão perigosa como a das pessoas do primeiro grupo. Se os olhos do ser amado se fecham, a sala fica mergulhada na escuridão. (...)
Finalmente, há uma quarta categoria, bem mais rara, que são os que vivem sob os olhares imaginários de seres ausentes."
Kundera é um escritor para uma vida.
O blog ...não sei. Mas faz-me ter que escrever em vez de me esparramar em ideias mais ou menos feitas. E assim as palavras, que são falsas, criam-nos aquela sensação de ambiguidade que é muito ajustada à nossa condição humana.
Eu, dado que não tenho público, os meus amigos nem sabem que eu escrevo isto, e a minha mulher não liga nenhuma, só posso pertencer à quarta categoria. Escrevo para Nossa Senhora. E como não sou calvinista, não preciso de estar sempre a citar a Bíblia.
Abriram-se as hostilidades...

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