Auto do Pensamento



Dei hoje de manhã uma volta pelos blogs e verifiquei que houve aí uma polémica sobre a ironia , que eu não acompanhei, nem agora consegui descortinar totalmente. Mas é um tema inspirador, tal como a memória. Aqui vai disto :



Encontram-se quatro rivais ( Ironia, Silogismo, Poesia e Analogia ) num entroncamento :



Ironia - Tudo começa comigo, porque vocês são uns cobardolas

Silogismo - Mas desde quando é que começar vale alguma coisa. Acabar é que é importante.

Poesia – just walk, please !

Analogia – É tudo a mesma coisa, amigos, temos de nos dar bem !...

Silogismo - Reparem, a “descontinuidade contínua” do pensamento : princípio – meio – fim é a garantia da sua validade.

Ironia – Tu, por mim, podias ficar logo pelo princípio, se faz favor.

Analogia – Mas pensar é andar ficando parado, porque é que vocês se estão a maçar.

Poesia – A alma nunca está calma, e pensar é uma metáfora.

Silogismo – Com vocês ainda se estava a fazer fogo com uns pauzinhos

Ironia – Mas tu ainda os tens, só que estão noutro sítio, foi a realidade que te os pôs...

Analogia - Façam a fineza de não ser grossos.

Silogismo – Vê-se que tu é que não acrescentas mesmo nada. Só comparas, não evoluis!!!

Poesia – Evoluir é a volúpia do pensamento clássico.

Ironia – Olha e tu já te viste ao espelho. Cai no teu real se é que tens algum. Esta gaja a falar de volúpia, só visto !

Silogismo – Finalmente a Ironia revela-se : precisa da realidade para viver. Eu pelo menos sou auto-suficiente

Analogia – Mas vocês estão a falar de quê ? Nós precisamos todos uns dos outros !

Ironia – Olha, tu para mim apenas me dás umas pistas. Não te sobrestimes .

Silogismo – Vê-se que vocês são desarticulados por natureza. Improdutivos. Parasitas. Fechados no mero confronto.

Poesia – Mas o sal salga e conserva porque é diferente da carne. Elejam o abismo como a salvação do promontório.

Ironia – Tu andas a vender melhor, mas não abuses.

Analogia – Vocês são mesmo todos igualzinhos, assim eu também não me safo.

Silogismo – Está clara a minha maior consistência, o que é mais firme mais perdura , concluo que eu ainda estarei bem vivo quando vocês forem um monte de cacos.

Ironia – A tua consistência passa a diarreia num intantinho. Basta comeres uma premissa estragada..

Poesia – Bem, na merda é que eu não consigo trabalhar



Entretanto vem a passar a Memória com um ar superior e cantarolando: “ Quando eu vim pra este mundo /era eu uma criança / mas agora que estou velho / como a todos, fica só lembrança."

Os quatro personagens ficam em pânico e dizem em coro “ corram que a gaja limpa-nos a todos”









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