Hoje, invocando uma das convenções humanas que obteve maior
sucesso, vamos despedir-nos do Inverno e novamente depositar as maiores
esperanças na estação que ganhou fama com Botticelli e depois alargou-a a
cunhar revoluções de sucesso duvidoso. Por mais cépticos, sarcásticos,
pessimistas, cínicos, irónicos militantes ou apenas ranhosos mentais sejamos,
temos todos a secreta sensação de que na Primavera todos somos flores.
Presos aquilo que a Natureza (outra convenção) nos fornece,
entregamos assim o pouco que é nosso (chamemos-lhe assim por facilidade), a
psique, aos caprichos de algo que não sabemos a quem obedece, apenas tendo a
certeza de que à Ciência não é de certeza, e há fortes indicações de que ao Rui
Rio também não.
O Inverno termina com Putin confirmado, Lisboa cheia de
Turistas, Costa secretamente excitado com a perspetiva de vir a ser um Salazar
monhé e Carla Bruni a levar croissants ao seu amado génio Nicolas. Penso que a
Primavera vai ter de se esmerar para superar o Inverno que a antecedeu, e acho,
portanto, que deve concentrar os seus esforços no Amor.
O amor primaveril é uma realidade humana destinada a ser
rodeada de todos os encómios e a obter os mais diversos favorecimentos pelas
instituições. Se há vários momentos da vida que o chamado estado social se viu
chamado a intervir com benefícios de índole económica (a gravidez, o casamento,
a doença, a morte, o despedimento, as férias, o descanso semanal, etc etc),
está chegada a hora do subsídio de amor primaveril.
Quem apresentasse um atestado de paixão primaveril teria
direito a um fim-de-semana gratuito em qualquer estabelecimento hoteleiro do
país, pensão completa e isenção total de ciúmes por parte de quem os pudesse –
mesmo legitimamente ter. Reparem, não está incluído nem álcool nem qualquer
tipo de estupefacientes, nem sequer a comparticipação em vasodilatadores. Isto
é, cada um teria de se aviar com a tesão que trouxesse. O Estado é uma pessoa
de bem e não pode alimentar punhetices.
O mundo está, é fácil de constatar, na complicação do
costume, agora com o adicional de que não sabemos quem são os bárbaros e quem
são os cidadãos do Império, por isso, temos de nos fixar no certo e o certo é
que , em principio, entre duas pernas de qualquer género (penso que é assim que
se diz) está um órgão funcional a querer participar nesta festa que são as
Estações do ano.
Não se pense que este é um post de mero apelo ao sexo livre,
nem sequer a uma promiscuidade controlada, nada disto, é apenas uma tentativa
de formulação daquilo a que o moderno Leviathan se deve dedicar: a não nos
foder a cabeça e permitir que a possamos usar para foder em descanso.
Dizem os puristas morais que o sexo não é uma preocupação
cimeira da nossa existência social e psicológica. E eu concordo. Primeiro vem a
escrita, claro.
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