Murmurando entendimento III – do cabaré para o convento, ida e volta


Simão Bivalves sempre fora um reformista da primeira hora. Vivera torturado pelos desmandos e manobras daquele que ficaria sorbonianamente especializado em tortura, e encontrara em Passos Coelho uma espécie de vamos-lá-ver-se-dá, tipo chave de fendas em promoção. Habituado a escarnecer e a elogiar, com uma discricionariedade da família dos pequenos caprichos, Simão punha-se agora a jeito para servir de mais um alibi ideológico a uma bateria de testes chamada pomposamente governo de salvação com troika em opção.

Pau para toda a colher, arrastou-se de gabinetes em gabinetes, tentando vender-se como eminência parda mas pago a preço de conselheiro laranja. Andou próximo do poder e sentiu-se recompensado por aquela sensação pirilâmpica de quem está tão próximo da luz que se julga ser interruptor.

Emprestou a alta verve, a média cultura e a baixa vergonha ao serviço do desdém olímpico e da cumplicidade banana, contradisse tudo o que já tinha dito com a limpeza típica das superioridades de ocasião, e ganhou referências que nunca sonhara sequer ter que suportar num grupo de sueca de reformados.

Inchou com o vento que teve à mão e desinchou com as picadelas dos ouriços do poder, esbracejando que não se pode ser maquiavel com medicis estragados.

Simão Bivalves dedica-se agora a mostrar que afinal sempre foi um espirito livre. Da mesma fora que nada prende o diáfano flato ao espasmódico colón.

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