Inspector Álvaro Simões - Constou-me que a D. Viviane tem um
envolvimento emocional com o escritor Salvador Alves Arinto que também era
amigo íntimo da defunta D. Custódia...
Viviane Lopes - Bem...o Salvador é aquele tipo de homem de
quem todas as mulheres gostam de ser emocionalmente íntimas...
A. S. - Uma espécie de confessor laico...
V. L. - É um homem perfeito de mais para ser desejado...é
tão perfeito que temos medo de o estragar (ahahah)
A. S. - Não poderia haver alguma frustração nele pelo facto
da Custódia não o...o..desejar?
V. L. - Ah, nada disso, ele ama-me é a mim! (ahaha) E eu
também gosto dele, mas ele é incapaz de perceber isso... A Custódia tinha por
ele uma amizade gira, e por ele correspondida, era uma relação curiosa, com
muita brincadeira, com aquela coisa da inteligência emocional...aí não encontra
nada, Inspector.
A. S. - Sinto que está a tentar protegê-lo... Porque é que
ele não consegue perceber que a Viviane gosta dele!? Isso não é nada compatível
com a tal perfeição!?
V. L. - Ele é arinto mas eu sou arisca, sabe, ou seja, a
minha defesa é o ataque, eu não posso dar o flanco, tenho de o manter na
dúvida, este tipo homens sem dúvidas tornam-se insuportáveis, galvanizam,
exploram-nos emocionalmente, não me posso dar a esse luxo.
A.S. - Mas assim corre riscos de que ele desapareça...
V.L- - Eh lá...isto é um inquérito com consultório
sentimental de bónus..Inspector, você é um caso sério (ahahah)
A. S. - Estou apenas a tentar perceber que tipo de relações
andaram à volta da Custódia...vejo que era uma ambiente muito...muito rico
neste aspecto.
V.L. - Sim, era, e é, tudo gente com os sentimentos muito à
flor da pele, uns mais cínicos, outros mais generosos, uns mais histriónicos,
outros mais discretos, mas, sabe, o coração dum único homem reflecte o mundo
inteiro.
A. S. - Acredito, mas não consigo acompanhar o raciocínio.
Continuemos com o Sr Salvador, ele tem-se mostrado relativamente distante
durante os dias que se sucederam à morte de Custódia, tem alguma explicação
para isto?
V. L. - Deve ser a reacção dele ao facto...não sei...nunca o
tinha observado em circunstâncias semelhantes. Olhe, no dia do enterro
convidei-o a ir a minha casa e ele não quis...Fui rejeitada Inspector, vê! Isto
podia dar cabo duma mulher, devastá-la mesmo (ahaha)
A.S. - Sim, poderia, mas não devastou, como se vê... parece
que até fortaleceu...
V.L. - Claro, sabe porquê? Porque eu gosto do Salvador e
dalguma maneira estou dependente dele. O grande problema da Custódia é que
viveu para ser independente, para se bastar a si própria e isso...olhe, isso
acaba por matar.
A.S. - Parece lógico e leva-nos ao suicídio, mas eu não
acredito nessa tese, sabe?
V. L. - Porquê?
A.S. - Pela razão mais simples: Custódia era medrosa e além disso estava grávida.
V.L. - Aibéguiópardon! Grávida? Está a testar-me! Não
brinque com isso...E quem era o pai?
A.S. - Já faltou mais para ter os resultados dos
testes...tem algum palpite?
V.L. - Ainda estou zonza... só me disse isso agora? Quem é
que sabe?
A.S. - Foi o Salvador que nos disse que suspeitava disso e
foi confirmado na autópsia.
V.L. - E o Salvador é que lhe disse?! E anda tudo fechado em
copas?
A.S. - Há sempre que aproveitar as capacidades dos homens
perfeitos, sabem coisas que mais ninguém sabe.
Transcrição do depoimento de Viviane Lopes, recolhido pelo
inspector Álvaro Simões, um mês depois da morte de Custódia Passos, e publicado
no Boletim Mensal do Investigador
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