Afastadas as ilusões libertárias, conservadoras, estruturalistas, liberais, deterministas ou psicadélicas, (sendo que a ordem exposta é arbitrária) ou melhor ainda , sabendo como se sabe hoje que: seja: a) a sociedade como um todo; b) a sociedade como uma soma de partes; c) a sociedade como algo que nem sequer exista fora da letra impressa; d) o individuo como uma peça num puzzle; e) o individuo como uma peça numa engrenagem; f) o individuo como um ser independente e livre; g) o individuo como algo que nem sequer existe; h) o individuo como uma marioneta sob o comando de mãos visíveis ou invisíveis - os modelos explicativos estão mais ou menos honrosamente esgotados, em qualquer destas hipóteses apenas nos resta uma solução que eu chamaria de 'misticismo acrobático'. Ora esta corrente de pensamento (começou mesmo agorinha a correr) diz-nos essencialmente que é da junção entre a vontade do conhecido com a vontade do desconhecido que se organiza o mundo. Sendo que estas duas vontades se encontram muitas vezes em partes esconsas ou mal empoleiradas e muitas vezes mesmo em partes incertas, radica no coração do homem a alephização da coisa. Como já será de fácil previsão, o nosso coraçãozito, dada a sua natureza esponjosa, parece relativamente apto ao estica-para-ali-estica-para-lá e assim com alguma acrobacia acaba por chegar e encaixar-se em qualquer lado. Conclusão, pois todas as iniciativas humanas e dignas como esta exigem conclusões: temos de reclamar a Deus nosso senhor não só o clássico e canónico corações ao alto, mas igualmente o corações em baixo, apelando a um ajuste da nossa condição mais adequado ao desvanecer das características nobres para as quais o ser humano parecia estar talhado, desde o tempo dos primeiros mártires, pescadores de homens e inclusive decoradores de catacumbas. Assim, conseguiríamos produzir modelos de explicação do mundo mais consentâneos com o nosso aparelho digestivo e menos inspirados no nosso aparelho respiratório.
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1 comentário:
«Que faire dans un monde où ceux qui parlent vite et fort font
de l'ombre à ceux qui chantent doucement et de belle manière ?
Chanter d'encore plus belle manière et encore plus doucement.»
Andrzej Malinowski
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