os três porquinhos

A loba Merkalina chegou justiceira à borda da floresta e viu a casota do porquinho Calotondreos acabada de construir em palhinha do Pireu colada com leite fermentado. Encheu os fartos peitos de ar e metade da palha voou pelas espumas do Egeu, pondo Calotondreos a correr de alívio pelos montes abaixo porque já estava farto de palha. Na louca perseguição que se seguiu, a loba Merkalina encontra a cabana que o porquinho Gaspar tinha conseguido construir à pressa com corticite embebida em baba de caracol. Saca imediatamente do seu famoso fôlego do Reno e, num ápice, a corticite vira torresmo pondo Gaspar e Calontondreos, que entretanto aí se tinha refugiado para passar o são martinho, a correr desvairados pela pradaria a caminho dum cadafalso com revestimento a sumaúma. Eis quando já quase sufocada pelos calores das acelerações a loba Merkalina dá de focinho numa casota em bela alvenaria da Provence, cores cálidas e arvoredo em redor, como que saída duma cezanneada ao entardecer. Lá dentro ouvia-se o ruído tricotado da roca, dois acordes de nemequittespas, e um odor camomiliado. Lesta espreitou pela fresta e foi levada pela comoção. Uma cena linda e pura atravessou-lhe o coração como um obus de ternura: o porquinho sarkozinho derramava uma lágriminha no colo abençoado da bela e doce Brunilde. Merkalina ainda subiu arrastada à chaminé, ainda lançou a corda com os restos da sua impiedosa severidade, ainda franziu a sua austera fronha, mas sucumbiu à vergonha e aos latidos de mel do leitãozinho petiz embrulhado em flor de Liz. Recuou, deixou a raiva passar, esqueceu Calotondreos e Gaspar, alisou o pelo reluzente da pata, e à porta deixou um enxovalinho de luxo: um eurobonde de prata e uma fonte de porcelana com repuxo.

1 comentário:

Anónimo disse...

lindo!

o peixinho vermelho