k'rizz

Como os cientistas políticos já tiveram a gentileza de levantar o véu e esclarecer-nos, Portugal saiu directamente da negrura salazarista para o maravilhoso mundo das liberdades democráticas sem ter tempo de amadurecer as suas preciosas instituições, sem ter debutado convenientemente no baile do pluralismo cívico, saltando de precipitação em precipitação, queimando etapas como quem trinca sorvete. Infelizmente, os cientistas financeiros, certamente por afazeres vários, não foram tão capazes nem rigorosos a advertir-nos e explicar-nos que passámos meteoricamente da fase do saco azul para a fase dos buracos orçamentais sem termos feito a necessária e ponderada adolescência financeira, pulando da punheta deslumbrada para o deboche alavancado sem o devido processo de organização hormonal e emocional exigível aos nossos recursos financeiros. Chegamos assim ao siliconizado mundo da finança adulta com muita experiência por consolidar, misturando o escândalo com a descoberta, incapazes de discernir o prazer da responsabilidade, e alvo agora de reprimendas e conselhos de vária ordem e índole, servindo-nos na boquinha sopas de austeridade e consolidação, como que tivéssemos finalmente de fazer com a merda os castelinhos que outrora não treináramos com areia. Esta carência de um período de adolescência financeira coloca-nos na mão de psicoterapeutas orçamentais, encartilhados nas terras de ninguém e babando inevitabilidades como quem clisteriza dons do espírito santo. Encontramo-nos naquela curiosa condição em que apalpamos em redor e todos os dias descobrimos zonas que já perderam a sua prorrogativa erógena e agora se limitam a ver o sangue passar por entre as franjas dos pielings.

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