O facto da chamada 'nossa dívida soberana' ter sido hoje classificada de Junk deveria consolar-nos, enternecer-nos, orgulhar-nos inclusive, e ser imediatamente aproveitado de forma inteligente, colocando a dita no local que lhe temos já há muito naturalmente destinado, ou seja, na Rua da Junqueira, ali perto vá, não sejamos picuinhas, precisamente no Museu de Arte Antiga. Assim, os nossos credores quando quisessem saber como ela estava, pagavam o bilhetinho e iam visitá-la nas salas do Museu. Teremos assim a primeira dívida soberana a ser elevada ao estatuto de património artístico. Poderá não ser um Taj Mahal, ou mesmo um tesoiro das mil e uma noites, mas será certamente inspiradora de grandes momentos de gratidão e saudade. Penso já na realização de algumas exposições temporárias da nossa 'Dívida da Junqueira'. Por exemplo, às primeiras quintas de cada mês mostrávamos a dívida que tinha servido para construir a Expo, aos fins de semana apresentávamos a dívida que tinha permitido os estádios de futebol, no Natal e na Páscoa expúnhamos a dívida que tinha pago a ponte vasco da gama, e por aí adiante, com promoções especiais para finlandeses e alemães que com o bilhetinho poderiam levar de bónus uma miniatura em faiança com a torre de belém ou da ana drago. A 'dívida da junqueira' (como ficará chamada na gíria dos mercados - de arte) transformar-se-á assim de passivo a activo num ápice, revelando como finança e arte podem andar de mãos dadas. Chamo, no entanto, a especial atenção para as questões de segurança face aos fortes indícios de que há ataques concertados às dívidas soberanas. Aproveito ainda para aconselhar as autoridades competentes a instalar esta nova peça numa sala condigna e espaçosa, que permita a colocação de novos painéis - quando lhe juntarmos a nova dívida efemízica - e inclusive uns nichos, para instalação dumas peças de arte decorativa que irão ficar na moda, os chamados Difôltes (tanto mais que as golden chéres agora vão para o museu da etnologia).
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2 comentários:
A Drª Girassol pede que lhe transmita os mais enfáticos parabéns pelo seu retorno ao "post-quase-político" com função pedagógica na vertente económico-social. E acrescentou uma frase um tanto enigmática de que só compreendi "manual" e "keynesutra".
'manual do keynesutra' seria um óptimo titulo para estimular a economia, sim :)
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