Num homem biologicamente normal (no sentido estatístico do termo) as suas maiores frustrações são sexuais. Ou seja, fodeu menos do que queria, fode menos do que pretende e antevê foder menos do que desejará. A austeridade sexual masculina é uma evidência civilizacional. É claro que estas frustrações vêm, para seu (do homem) equilíbrio e sanidade, sempre camufladas de outro tipo de frustrações (chamadas frustrações de mitigação) como sejam as sentimentais, ou as de realização profissional ou até as de pendor ético, em casos mais desesperados. Assumindo o teor sombriamente freudiano do acima enunciado, importa dizer que apenas um homem anormal (em todos os sentidos do termo) consegue admitir abertamente este facto, seja por razões de sociabilidade, convicção moral, ou apenas porque dá algum mau aspecto à sua imagem para terceiros, ou mesmo segundos. Por outro lado, as frustrações (em geral) são apenas uma pequena parcela da nossa vida psíquica e conheço muito pessoal que nem sequer lhes liga nenhuma, e inclusive se sente frustrado com isso (é a chamada frustração reflexa). Acontece ainda que nenhuma mulher normal (no sentido ginecológico do termo) acredita nisto, ou seja, ela julga que o homem - designadamente aqueles com quem convive e eventualmente escolheu - é essencialmente uma espécie de guardião do templo do grande deus da virilidade sensível, tirando um ou outro marialva mal formado.
Eu próprio estou com dificuldade em acreditar naquilo que escrevo, não tanto porque não saiba que é verdade, mas porque me soa a algo decadente. Ou seja, a sexualidade humana está tão intimamente ligada às nossas forças vitais (leia-se reprodução ou mesmo relacionamento em geral) como também à decadência da nossa soberania psicológica e até moral.
Eis então como podemos daqui tirar ilações para o momentum nacional. Pensemos na crise financeira como uma mera etapa da nossa frustração colectiva. Nunca fomos, nunca seremos a nação que quisemos, queremos, quereremos ser. O mundo sempre se manifestou ciclicamente incapaz de suportar toda a nossa virilidade e consequentemente de abafar o nosso desejo. Nessas fases temos de viver a frustração como a nossa melhor amiga. Pensemos numa Alemanha rica e pujante a desfazer-se sob as forças diarreicas das energias ecólicas, e nós de eólicas em riste, pensemos na Finlândia a ter de vender a nokia a um fabricante paquistanês de chapéus de palha, pensemos em strauss kahn a ter sexo com sentido, consentido inclusive, com soraia chaves em versão sereia, pensemos no Gonçalo M Tavares a ganhar o booker prize num romance autobiográfico em trocadilho, de título Greenwich Mean Time, pensemos nos nossos sacrifícios como meras castidades de ocasião, enfim, pensemos no mundo como uma vagina cheia de novas oportunidades à nossa espera, ora frustrando-nos ora oferecendo-nos bojadores vários e inesperados que tanto podem resultar em idílicas praias como em novos adamastores. Se houver culpa para distribuir, ela será sempre dos bordéis, perdão, mercados.
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