Por muito que se pretenda dar ao conceito de passado um estatuto intelectualmente bonificado, será sempre à conta do futuro que se produzem as maiores avalanches ejaculatórias. Apesar da má fama do projecto, todos queremos produzir uma ou outra verdadita antes do tempo, todos queremos ter o nosso apocalipse pessoal e portátil. Por mais fatalistas que sejamos ninguém enjeita ser secretamente um pequenino fazedor de futuros e restantes providências. Como já não vim a tempo de escrever um Companion da crise, nem mesmo um simples 'desenmerde-se você mesmo em 10 lições', o melhor que posso aqui deixar é um elenco de futuropatias para o amável leitor poder escolher, no remanso da leitura descomprometida, qual se adequa melhor aos seus fluxos e refluxos gástricos; ou outros. (dicionário não ilustrado nas entradas 1387 a 1395)
profecias - Tipo de abordagem do futuro em que este se apresenta protegido por uma película de celofane cósmico só transponível através de bolas de fogo ou messias em brasa.
agoiros - O futuro como algo do qual essencialmente nos precisamos de proteger. No fundo trata-se de conseguir fazer com que uma blitzkrieg de consciência se possa transformar numa mera moinha no estômago.
prospectivas - Basicamente a realidade futura constrói-se em torno de 4 elementos básicos: dados, relações, imprevistos e consequências. Uma diarreia é uma consequência, uma cereja é um dado. Um quilo delas comido de enfiada é uma relação. A falta de papel higiénico é o exemplo dum imprevisto. A existência de olho do cu é uma benção do sistema.
astrologias - Todos temos de escolher algo que nos condicione, se essa escolha recair sobre um conjunto de calhaus gigantes que cabriolam e rodopiam airosamente entre si dividindo forças, poeiras e gazes, acabamos por assentar numa opção esteticamente com algum potencial.
utopias - Se o futuro puder ser um lugar que não existe garantiremos sempre, pelo menos, poupança em deslocações e estadas.
determinismos - No ângulo morto entre o eterno retorno e o materialismo dialéctico será sempre possível encontrar uma ultrapassagem segura, e que nos permita dizer serena e alegremente adeus ao caos que se arrasta pelas bermas. Depois, a melhor forma de nos protegermos do embate do futuro é irmos preparados com uma quimera nos cornos.
revelações - Para parirmos um anjo com estudos basta não termos alergia a frases pomposas e tratar com algum cuidado as articulações. Os nossos joelhos podem transformar-se em verdadeiras dobradiças de pandora.
adivinhas - Para evitarmos a desagradável situação da bola de cristal ficar sem pilhas no momento em que os sinais começassem a dar de si, a opção mais eficaz é assumirmo-nos nós próprios como os sinais e levarmos o 'conhece-te a ti mesmo' às ultimas consequências.
premonições - nesta categoria, subsidiária duma espécie de panteísmo da 3ª geração, o futuro não é mais do que a manifestação retardada dum qualquer fenómeno que já hoje percorre o nosso espírito. Ou seja, tudo começa numa comichão: uns detectam-na, outros não.
10 comentários:
De Astrologias posso arriscar-me, mas urge saber: dia, mês, ano, hora e LOCAL do nascimento do País. Se tiver nascido sob o signo de Capricórneo, espera-se uns 10 ou 11 anos difíceis pela frente, mas tudo vai depender do Ascendente!
Saudades destes hemisférios juntos!
;)
E
podemos considerar que o País nasceu no Tratado de Zamora em 5 de Outubro de 1143.(a hora é q já não sei...)
Confirma-se, então, que não somos capricórnios :)
Portugal é Libra, olha o que Fernando Pessoa escreveu
LIBRA
VII. OCIDENTE
Com duas mãos –o Acto e o Destino–
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o fecho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.
Fosse a hora que haver ou a que havia
A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi a alma a Ciência e corpo a Ousadia
Da mão que desvendou.
Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu.
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Já, se o tratado de Zamora foi assinado entre a a 1 e as 3 da tarde, o vosso Ascendente é Capricórneo...
;)
E
as horas certas não sei...mas essas não me cheiram pois é a altura da sesta! :)
O meu lado Capricórnio apresenta-se:
Gosto de fiabilidade, profissionalismo, saber do que falo, ter bases sólidas e finalidades claras.
Não gosto de «esquemas» nem de «golpadas», fantasias idiotas, tarefas sem objectivos, ignomínia e gente ridícula.
Ciao, caro ; )
é pá, blanche, isso não é um horóscopo ... isso é uma troikoscopia! :)
Então, uma vez descartadas minhas astrologias e as revelações de Blanche; passamos agora às adivinhas, premonições, utopias, talvez?
;)
E
Tenho um certo fraquinho por premonições, confesso, mas há que ter cuidado, pois podemos ser tentados a confundir ardores na vesicula com antevisões de dilúvios :)
Podemos, então, escolher as adivinhas como prato do dia? E as utopias à sobremesa? A escolha do vinho fica por conta do dono da casa.
L. (your always waiting waitress ;)
Ora viva, ementas novas, é? :)
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