O que tem Portugal a ver com a arte e o amor? Uma dedicação fiel ao sofrimento, uma flor sempre a olhar para as suas pétalas mais murchas, um coração sempre maior que a perna, uma cobiça sempre maior que o ciúme.
O Portugal moderno fez-se da imitação. Como todos. Olhámos para os que idealizámos estar melhor que nós e agimos na conformidade das palavras trazidas na maré pela espuma da moda: infra-estruturas, qualificação, alianças (inconsciente, recalcamento, transferência, dir-se-ia num freudiano ainda purista). No amor é igual: uma boa cama, uma boa tesão, uma boa posição. Na arte é igual: uma tela desengordurada, uma boa pedrada, um agente empenhado.
Falhámos. É óbvio que falhámos. O nosso trabalho caiu no capitalismo errado, tal como muitas vezes o amor cai no ângulo cego da paixão, ou a inspiração desemboca numa transpiração medíocre.
Somos óptimos a fazer retrospectivas, tal como um amante sabe descobrir onde lixou tudo, ou um pintor sabe onde fodeu um quadro. No entanto, aqueles que hoje tentamos repescar da história como sendo as nossas bússolas cassândricas, desde os padres antónios vieiras aos eças, passando pelos herculanos e os oliveiras martins, afinal assinalavam-nos o mesmo que fizeram os amantes falhados como tolstoi ou os pintores baralhados como kandinsky, ou músicos desesperados como johnny cash - a existência tem a mão mas os fenómenos têm os trunfos.
A história de portugal mostra-nos uma ferida sempre a piscar o olho, e nós a escondê-la com os poderes terapêuticos infinitos da ilusão, qual artistas a tapar um enredo fraco com uma dúzia de parágrafos de belo efeito, ou alguém que sabe só conseguir amar alguém que nunca possa sequer abraçar em condições.
A história de portugal mostra-nos uma ferida sempre a piscar o olho, e nós a escondê-la com os poderes terapêuticos infinitos da ilusão, qual artistas a tapar um enredo fraco com uma dúzia de parágrafos de belo efeito, ou alguém que sabe só conseguir amar alguém que nunca possa sequer abraçar em condições.
Hoje é impossível aparecerem Shakespeares, Dantes ou Dostoievskis, temos coisas a mais na cabeça, perdemos a hipótese de ter sequer a ilusão de arranjarmos uma dúvida fundamental, um drama essencial, um amor definitivo que nos insufle. Nem ditadores em condições já conseguiremos parir, e já nem termos força para nos deixarmos manipular é a maior vitória da democacofonia. A transcendência aguenta na nossa alma pouco mais que cinco minutos seguidos e o coração parece repartir cada vez mais as funções do fígado ou dos rins. Mas um grande país nunca cicatriza.
Resta-nos o trabalho honesto, a arte subversiva, o amor decorativo, a luta de classes e a presença de Deus.
a frase do titulo é (mais uma vez) do Journal Inutile, de Paul Morand, em 12 de Abril de 1971, pág.501.
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