um dois três macaquinho do chinês

Ao contrário do que pode transparecer das fontes bem informadas, Portugal vive hoje um momento absolutamente vibrante da sua história, proporcionado pelos miminhos que só a geopolítica pode fornecer.

Como é conhecido, o nosso ilustre caminhar pelos tempos esteve sempre marcado pela existência da ameaça espanhola. Mas foi aquilo a que se pode chamar: um inimigo fiel; esteve sempre ao nosso lado a debicar-nos fronteiras, navios, possessões, tronos, terras, porcos e lagares de azeite, conferindo-nos o elevado estatuto de Estado invejado e ameaçado, estatuto esse que lá fomos sabendo conservar como pudemos. Hoje, um terço do nosso calote externo são eles que se arriscam de levar, mas desistiram há muito de nos invadir, de tomar conta de nós, e o pouco eucalipto que ainda nos resta já não os seduz e muito menos entusiasma.

É verdade que também tivemos de arrear nos mouros, tivemos os Franceses a invadir-nos, os Ingleses a ultimatar-nos e até Holandeses a roubar-nos, mas nunca um inimigo se mostrou tão prestável e sério como a espanholada. É por isso com enorme desolação que os vejo esquecerem-nos e desistirem de ser nossa ameaça, ou mesmo aliado, vizinho, madrinha, noiva, companheiro, palhaço, limitando-se a ser parceiros bilaterais (uma espécie mini-colhões da grande pinocada estratégica, se me é permitida esta linguagem) em tratados tão ilegíveis quanto irrealizáveis, apesar de eventualmente porreiros - pá.

E é aqui no meio desta aparente desilusão que surge inesperadamente um novo grande momento da nossa história. Abafado o quinto império pela literatura mais pragmática, requentada a vocação atlântica e agora perdida a europeia entre as brumas do rating e os pintelhos da dívida, está chegado o momento de irmos (e de caminho virmos) novamente ao grande leilão das nações.

Portugal tem hoje a possibilidade de se oferecer dignamente a pelo menos três robustos países com os quais temos enormes e fluidas ligações históricas. Não se trata de uma colonização invertida (como já um cronista do FT tentou glosar), não se trata duma mera venda de território ou soberania, nada original de resto, nem se trata duma simples recolocação da famosa dívida, actual e nova, não, nada disso, trata-se apenas de, pelo menos, isso tudo junto, e quase uma sublimação do oil for food, mas agora no formato de nothing for food.

Já tivemos Espanha, como supra se assinalou, mas não nos iludamos: era uma fatalidade geográfica, como ser marroquinos do norte o seria; hoje, sim, podemos escolher livremente. Brasil, China ou Angola (os russos só compram clubes de futebol infelizmente); qualquer um destes nos poderá adoptar de forma desinteressada, apenas movidos pelo carinho e pela vontade de ter de arranjar alguém para tomar conta, impossibilitados que estão de parirem países mais pequeninos, face ao mundo ter chegado a esta fase de menopausa geopolítica. Poder-se-ia pensar tratar-se dum simples refreshing na figura do Protectorado, mas não, julgo estarmos perante a criação de uma nova figura no direito internacional: O País Adoptado. O Adoptorado.

Qualquer dos três é uma boa opção, tanto para nós como para eles. Com todos há a força da intercontinentalidade, com todos há uma densa experiência (quem não ofereceu já o molar a um dentista brasileiro, quem não comprou já uma ficha tripla numa loja do chinês, quem não dançou ou viu dançar já uma kizomba sonhando ser o chefe da tribo) e nenhum nos desdenharia como país de estimação ou, como entrará rapidamente na gíria das cimeiras: o Pet Country. Já estou a ver a Torre de Belém a ser passeada à tardinha pela Muralha da China, e a cheirar o rabo dum qualquer Escorial entretanto também apanhado nas malhas do Adoptorado.

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