Num blog (o ouriquense) de cores sóbrias, pensamento confuso e bom gosto musical pode ler-se a propósito de nem se sabe bem o quê: «a imagem que fica do pensamento religioso é a de um raciocínio fracturado em cuja fissura se injectou fé».
É frequente pessoas sem aparente pinga de fé entenderem como esta funciona no mecanismo básico que é o pensamento humano. A noção de fé como algo entre a bucha e o tapa poros que se enfia no esquema mental de um certo tipo de mamíferos afigura-se-me absolutamente correcta. O raciocínio é por natureza fracturado, (aliás a única secreção humana contínua é o jacto de mijo) e a fé para se juntar à festa decorativa teria apenas três hipóteses: ou como subcapa (lugar já ocupado pelo preconceito), ou como tromp-d'oeil (lugar também já ocupado pela retórica), tendo assim optado por ocupar o único lugar livre que é a fissura (evitando-se o termo racha, por razões de mero respeito à técnica de estuque).
Aqueles que podem ter ficado como os pensadores religiosos mais influentes da história (s. paulo, abelardo, st. agostinho, pascal, dostoievski e joão paulo II) no fundo foram os que conseguiram enfiar a espátula da fé enquanto o estuque ainda estava fresco e mal ou bem quando tudo secou nem se notava a diferença.
O que distingue assim o pensamento religioso do pensamento científico é que nos raciocínios fracturados que alimentam o científico a injecção da dúvida metódica nas fissuras apenas impermeabiliza temporariamente.
A fé garante assim um raciocínio limpinho mas dado a infiltrações, bom para tipos que saibam antecipar a chuva, enquanto a ciência permite uma certa resistência à humidade mas a exigir sucessivas demãos de esmalte decorativo, mais adequado a rapaziada que gosta de ir trocando de trapinhos. Aqueles que injectem das duas na mesma fissura aconselha-se que andem sempre com um baldezinho de gesso na mão.
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