triplex

Gajascópio

Há três percursos essenciais na blogosfera feminina: acompanhar as idas da ana d' amsterdam ao ginecologista, da io à opera e da cristina ao cinema (mais tarde falarei de outros circuitos alternativos não menos interessantes). São registos que colocam à disposição do homem moderno um leque de sinais indispensáveis para a compreensão do universo da sensibilidade feminina, assim se comprovando que esta, para além de possuir o sexto sentido, também há fortes possibilidades de incorporar os outros cinco. Desde umas pernas diagnosticamente abertas, até uma japonesa a rir-se enquanto desce umas escadinhas, passando pelo tenor maltês com trinados de encantar, estamos sempre perante visões do mundo, sejam elas de pormenor ou sejam de rasgo ou pendor impressionista, que escapariam ao homem, mesmo ao mais atento.
A mulher sensível começou por ser uma invenção colorida do homem carente, depois passou por ser uma obsessão sombria do homem indolente e transformou-se hoje numa distracção sadia do homem insolente.

Desígnios

Já tivemos o Portugal amordaçado, temos já há alguns anos o Portugal estagnado, e agora temos o Portugal à espera de ser resgatado. Nunca tendo saído do sítio - a proposta de Saramago para nos tornarmos uma jangada de pedra foi inesperadamente negligenciada - estamos hoje meramente mal estacionados à porta da Europa, sem perceber se eles vão fechar os olhos, rebocar, ou bloquear-nos as rodas. Ser governo em Portugal significará tentar as duas primeiras hipóteses, logrando ficar apenas com uma pena suspensa. E garantir que há pelo menos energia suficiente para manter os quatro piscas ligados.

Caprichos

Lê-se hoje no Ipsilon (meu deus, meu deus porque me abandonaste), a propósito da Mª Gabriela Llansol, que esta 'não reinventava a língua por capricho académico, mas por uma consciência profunda de que a língua condiciona'. Ora isto volta a lembrar-me que o capricho é um constituinte básico da alma (isolada e em socialização). Mal amado, muito colado a uma superficialidade de gosto ou mesmo ética, o capricho é de longe o patinho feio dos grandes mobilizadores da história. Os aiévadrimes, as vontades férreas, as conciências (profunda ou não) do dever e o sentido de missão têm fodido as hipóteses de muito capricho. Troco três preconceitos já consolidados por um bom capricho ainda à procura de seu lugar ao Sol. Mesmo que envolva a língua.

14 comentários:

io disse...

Hum ... (dito assim com uma espécie de franzir da testa e semi-cerrar dos olhos, com um ligeiro soprar da franja), se misóginia fosse taxada a 23% com possibilidade de aumento após as eleições eu até percebia: gastar enquanto só paga 23% ;-)

Just kidding: obrigada, muito obrigada pela referência, aj. estar enfaixada numa triologia, etiquetada no sanatório, catalogada como sadia distracção do homem insolente e sobretudo na companhia de tão excepcionais e idolatradas bloggers, por um tão excepcional e idolatrado blogger, é demasiado para uma alminha simples e singela.

Evanise disse...

"A mulher sensível começou por ser uma invenção colorida do homem carente, depois passou por ser uma obsessão sombria do homem indolente e transformou-se hoje numa distracção sadia do homem insolente"

Mais uma das suas construções perfeitas, assim Portugal ainda será Penta no Nobel de Literatura!

Isso posto...Imaginava que "mulher sensível" fosse pleonasmo! Faz-me lembrar uma anedota regional, vou adaptá-la:

Quem faz melhor um churrasco:
a) Branca de Neve
b) uma freira
c) um homem sensível

Resposta correta: alternativa "b" visto que as alternativas "a" e "c" tratam de personagem ficcionais.

;)

beijo
E

blanche disse...

Meu doce amigo, não fosse de Mª Gª Llansol a ideia de «uma consciência profunda de que a língua condiciona» e pensá-la-ia «ficção» atribuível à excelente «ana de amsterdam». Ideia por ideia, é uma «caprichosa» imagem com o seu quê de «clínico», exemplarmente explorada neste «androcentroscópio» e só é de lastimar que venha citada no Ipsilon em vez de no Diário da República :)

[prjk: o Salomão já está de língua de fora ;)]

aj disse...

io, fica demonstrado que é muito dificil dizer bem, e mais dificil ainda de uma 'mulher sensivel'! :)

(E a 'misoginia' está para o desabafo feminino como o iva está para a cobrança fiscal: é sempre o que está mais à mão :)

gosto do que escreves e como escreves, doutro modo não teria escrito aquilo, mas como sou (fui) um bocadinho insolente...ok mereci levar com a farpa 'excepcional e idolatrado' sim eheh

aj disse...

Evanise, enganas-te!: o homem sensivel faz óptimos churrascos... mas com este pormenor: convida também a branca de neve e a freira! :)

aj disse...

Blanche, minha doce amiga, o diário da republica quando se pôs a tratar dos caprichos da lingua acabou a lamber sabão! :)

( e o Salomão q não desidrate pois a hora dele há-de chegar! :)

io disse...

farpa coisíssima nenhuma, sigo-te há anos. és um dos meus bloggers favoritos. tenho escritos teus, muito antigos, para aí de 2004 ou assim, bem guardadinhos (nem eu já sei aonde :-DDD). este post, esta referência, esta indicação de que me lês (moi?) e este teu comentário são demasiado para uma gajinha sensível. vou já à cata dos sais. não sem antes alardear que o blogue é bom, muito bom, o blogger excepcional, o post excelente e as comentadores, inevitavelmente, de elevadíssima sensibilidade e gabarito. ;-) Um beijo mui agradecido, aj.

Evanise disse...

Tenho certeza que faz! Até pq, sem sensibilidade o tempero sai ruim ;) E, qual das moças (a ou b) faz a "caipirinha" para acompanhar o churrasco?

Gostei demais do circuito de blogueiras, grata por partilhar!

;)
E

aj disse...

io, um comentário destes transforma qualquer empedernido insolente num home excepcional-hiper-sensivel! :)

agradecido eu, um beijo, antónio

aj disse...

Evanise, por cá o churrasco acompanha com sangria!... é a bebida que transporta a sensibilidade da mulher do caroço da alma para a flor da pele! :)

blanche disse...

Querido Antº, se me é permitida a sugestão, porque não escolher a freira para fazer a caipirinha? Sempre faz render a «lua de mel com Deus» enquanto «busca o sagrado deserto interior» ;) Quanto à branca-de-neve creio bem que preferiria ajudar na sangria, mexendo a frutinha com o açúcar mascavado até libertar os sabores e rodando o pau de canela para agitar os licores :)

mm disse...

Sr António, a Drª Girassol pede para abusar da sua caixa de comentários e deixar um recadinho:

"Srª Dona Io: gosto muito do seu blog, visito-a todos os dias mas não comento porque não me ajeito com esta modernice de escrever em computadores. Gosto muito do Sr Perseu porque me faz rir mas a Srª Dona Io tem de lhe dizer que o Sr se dá muito à preguiça e uma idosa como eu não tem muito tempo para estar à espera. Também gosto muito da Camila, às vezes vou à sua "casa" para o valdevinos do meu gato poder lavar a vista com uma gata civilizada."

A Drª Girassol pede ainda para dizer ao Sr António que, por ser uma "mulher sensível", gostou muito de o "ouvir" dizer que "o capricho é um constituinte básico da alma" mas que, para ela, o capricho é como o sal na cozinha, indispensável mas quando demais molesta.

Evanise disse...

Nossa versão de "sangria" é uma bebida feita com vinho tinto, gengibre, cravo,canela e cascas de laranja, tudo fervido e bebido no frio do Inverno: Julho!
A "caipirinha" é do Verão, feita de cachaça, substrato da cana de açúcar; a propósito D. Helder Câmara fez uma bela comparação: "há criaturas que são como a cana, mesmo postas na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura..." Provavelmente referia-se a homens e mulheres sensíveis (ainda que insolentes ;)

beijo
E ;)

aj disse...

eu meto-me em cada uma... o mundo está afinal cheio de mulheres sensiveis e eu nem sabia... Devo ter andado por churrascos marados, só com gajas chatas, quando afinal o mundo é um manancial de sensibilidade feminina, cum caneco!

aí vai disto:

querida blanche,


o meu deserto interior
é um areal sem fim
mas se o pauzinho agita o licor
torna-se um oasis para mim

srª dona MM,

se o capricho é como o sal
e a alma um panelão
ninguém levará a mal
Tê-lo aqui sempre à mão

Evanise,

se a caipira é filha da cachaça
e a sangria filha do vinho
nada terá mais graça
que casá-las a meio caminho


beijinhos a todas!

ps. e dona mm, comentários para a io é lá na loja dela, não é aqui! :)