verso à terça

Diremos prado bosque
primavera,
e tudo o que dissermos
é só para dizermos
que fomos jovens.

Diremos mãe amor
um barco,
e só diremos
que nada há
para levar ao coração

Diremos terra mar
ou madressilva,
mas sem música no sangue
serão palavras só,
e só palavras, o que diremos.

Eugénio de Andrade, em Mar de Setembro

7 comentários:

blanche disse...

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.


Eugénio de Andrade, 'O Silêncio' in «Obscuro domínio» (Fundação Eugénio de Andrade, 2000, 8ª edição)

Anónimo disse...

venha a musica então

aj disse...

Blanche, é muito bom esse poema!, e curiosamente, estive indeciso entre o q publiquei e o 1º poema desse livro, aquele que termina com um dos grandes versos da poesia em português ( do pouco q conheço, claro) o «ranho baba merda» :)

aj disse...

Então, então, se tivesse só uma transfusão para escolher...mandava injectar disto:

http://www.youtube.com/watch?v=FjjDmX9Tkss

que tal?

blanche disse...

Recomeço.
Não tenho outro ofício.

Entre o pólen subtil
e o bolor da palha,
recomeço.

Com a noite de perfil
a medir-me cada passo,

recomeço,
pedra sobre pedra,
a juntar palavras.

quero eu dizer:
ranho baba merda.

O Ofício

blanche disse...

Carol Velasquez é a autora da figurinha que não devia ter aparecido ;)

aj disse...

Esse mesmo! :)

Então a figurinha dessa Carol Velasquez (não conheço) dá logo um ar mais viçoso aqui a esta cave! :)