verso à terça

Nada do que é visível e,
à primeira vista, situado e transformável,
aqui surge com outro valor;
o vazio,
designando assim aquela porção de «ausência»
destacada da Ausência mais geral,
o substitui melhor,
ou antes,
o troca por um sentimento puramente humano,
acessível e,
em certos instantes de uma vida,
absoluto e necessário.


Nuno Júdice , em 'O mecanismo romântico da fragmentação'

10 comentários:

blanche disse...

"Cirurgicamente" falando:

After I had cut off my hands
and grown new ones

something my former hands had longed for
came and asked to be rocked.

After my plucked out eyes
had withered, and new ones grown

something my former eyes had wept for
came asking to be pitied.

Denise Levertov - Intrusion (Poems 1968-1972)

aj disse...

bem... de facto.. terem chorado por nós faz parte do nosso património...

(essa foi mais que cirúrgica...:)

Evanise disse...

Terça, novamente, já?
Pode-se marcar a passagem do tempo por esses versos à terça. Mais uma terça acabada!

;)
E

aj disse...

Oh, quão honrado /saio curvado :)

blanche disse...

Querido opiniondesmaker, cuidado com a "Espandilose" ;)

Era como anúncio de shampoo
Era vitrine como submersa luminosidade de cristal
Ela entrou no Shaikka
Disse alô, pediu café
E disse olha gente eu sempre fico triste nos Natal
Era a deusa do lugar comum
E sempre repetia as frases mais batidas como coisa genial
Um por todos e todos por um
Quem não arrisca não petisca
E brincava de odalisca o carnaval ...


Oswaldo Montenegro, "A Dama do Lugar Comum"

aj disse...

Querida blanche,

fase ao seu cirúrgico e literário cuidado,
agora até consigo fazer o pino,
e com piruetas de lado a lado
as vértebras flutuam num tapete de aladino :)

blanche disse...

A quem citou Lucas em latim respondo com Tomás de Aquino: "Beatus est qui vivit ut vult" :)

aj disse...

mas os santos mais populares dizem:

"Nemo vivit ut vult" :)

Evanise disse...

POEMA

Se morro
universo se apaga como se apagam
as coisas deste quarto
se apago a lâmpada:
os sapatos - da - ásia,
as camisas e guerras na cadeira,
o paletó - dos - andes,
bilhões de quatrilhões de seres
e de sóis
morrem comigo.

Ou não:
o sol voltará a marcar
este mesmo ponto do assoalho
onde esteve meu pé;
deste quarto
ouvirás o barulho dos ônibus na rua;
uma nova cidade
surgirá de dentro desta
como a árvore da árvore.

Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens
a mesma história que eu leio, comovido.

FERREIRA GULLAR


Comovida
;)
E

blanche disse...

"Sobral de Monte Agraço já tem um parque infantil" e o opiniondesmaker também já tem o poema mais conhecido (156.000 resultados em pesquisa simples no google) do Prémio Camões de 2010! Era uma falha imperdoável :)