Hoje, Grande Loição, quando anunciou a sua moção, afirmou solenemente que «Portugal estava num beco».
[ a grande fissura ideológica no bloco é entre a corrente 'portugal está um trapo' liderada por L. Fazenda e 'portugal está uma nojeira' onde pontifica JM Pureza. Louçã assume-se equidistante a todas as correntes e por isso, à primeira vista, terá optado pela solução de teor mais reformista 'beco']
Mas se ouvirem bem a declaração repararão certamente numa nuance pronunciográfica: ele fonetou béco, em vez do mais tradicional e corrente - a sul de Pontevedra e a oeste de cáceres - bêco. Julgo estarmos perante uma significativa e ponderada alteração. Não se trata de uma, agora se diria, reforma fonográfica em preparação (depois de esgotado tema ortográfico) mas sim duma verdadeira inovação no que diz respeito aos locais mitológicos onde portugal se pode situar, e inclusivamente à abrangência e amplitude do conceito de beco. Como sabemos portugal está recheado de boas metáforas para a sua categoria 'local & situação de merda', tendo-se destacado os já clássicos «pântano» e «tanga», para já não falar da nossa metonímia de recurso, o sempre presente «buraco», uma espécie de mário wilson das metáforas-de-local-situação, mas desta vez Louçã coloca esta estrutural questão num patamar de sofisticação raramente visto. Há que fazer notar que beco, na sua versão bêco, seria registado como uma mera rua sem saída, e nesse caso correr-se-ia o risco de até considerar portugal como um local calmo para as crianças brincarem sem o perigo dos carros, ou dos tgv's a passar em grande velocidade, por isso Louçã introduz a variante de beco que é béco, ou seja, para além de uma via sem saída há o perigo de choques graves (daí o acento) e inclusive de precipitações várias ( a presença, nem que imaginária, do chapelinho circunflexo poderia dar a ideia de protecção). O beco, na sua versão béco, mostra-nos assim definitivamente o local, não do homem no seu labirinto ( o labirinto é uma metáfora de direita, como se sabe) mas do homem encurralado entre a espada do capital e a parede da escravidão alienante, o homem no seu béco, que quanto muito pode aspirar chegar a praceta e pouco mais.
Se Zeus usava a ninfa Eco para distrair a mulher, Louçã usa o béco para instruir o povo.
2 comentários:
Ontem o Louçã candidatou-se aos Jogos Olímpicos na especialidade "tiro de carabina no pé". É bem provável que tenha a medalha de ouro à espera :)
anda tudo a candidatar-se à rasteira do ano...:)
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