os velhos

Aquilo a que vulgarmente se chama 'actividade política', algo que percorre um espectro que apanha desde vara a clinton passando por gandi, narciso miranda e cleópatra, tem vindo a exigir dos seus praticantes um tipo de características que evoluiu ao jeito das encordoações no ténis, com a diferença de que neste último caso as bolas saem cada vez com mais força e efeito enquanto que com os políticos a merda agarra-se-lhe progressivamente cada vez mais ao corpinho. Ou seja, hoje, o político de, digamos para simplificar, sucesso, é essencialmente um mecanismo de combate, pose e resistência psicológica; depois das idades do 'carisma', do 'paleio' e da 'imagem', que lá foram produzindo mitos e embustes a um ritmo, reconheçamos, não muito diferente daquele que encontramos na natureza a transformar calhaus em pedras decorativas, entrámos na idade do 'aguenta tudo'; esta actividade está agora reservada a um conjunto de mamíferos standard que têm de conseguir apresentar a mesma cara, tom de pele, unhas e ritmo cardíaco, quer estejam a ser insuflados de pólvora por todos os orifícios disponíveis, quer lhes estejam a distribuir cascas de pevides por entre as virilhas, quer lhes estejam a decorar a árvore genealógica com hastes de rena e pilas de hipopótamo. Assim, parece-me óbvio, o político começa a ter um prazo de validade mais apertado e forçosamente deverá começar a estar sujeito a critérios de higienização psicológica rigorosos, sob pena de, já os tendo de aguentar demagogos e oportunistas, não nos obriguem a levar também com eles caquéticos. Já não me interessam políticos corajosos, nem sábios, nem trabalhadores, nem experimentados, nem mobilizadores, nem competentes, nem o caralho. Quero somente gajos e gajas que não envergonhem os taxistas quando vão buscar os clientes estrangeiros ao aeroporto nos dias em que não está a dar relato de futebol. O político é o novo postal ilustrado com pernas.

Impõe-se, e desde logo com carácter de urgência, a criação de uma linha de montagem decente e limpinha para que eles sejam paridos com um mínimo de índices de fiabilidade para quem os vai ter de consumir, seja de palhinha seja à dentada. Estou absolutamente em desacordo de que o político deva sair da sociedade, (também não deve sair de nenhuma minoria nem de sangue nem de classe) sou a favor duma tecnocracia levada ao limite do seu potencial: a mecanocracia. O político é um produto genérico como outro qualquer, não aceito mais espectáculos tristes de velhos já sem a mínima capacitação psico-somática para esta merda. Uma nação digna tem de cuidar deles, mostrar que são patuscos, bons avozinhos mesmo sem heidis, dar-lhes carinho e apoio, medicamentos comparticipados, inclusive darem entrevistas à Barbara Guimarães, de acordo, mas não fazendo-os presidentes.

6 comentários:

mm disse...

Estamos perante um cenário verdadeiramente aterrador: escolher entre a gerontocracia (à esquerda ou à direita), feroz e tenazmente agarrada a e crédula num poder que há muito lhe fugiu, e a inconsequência panfletária (nem esquerda nem direita, qdo muito norte e sul), desconexa e oscilando entre a esquizofrenia, o proselitismo e o lirismo bacoco pseudo-humanitário. Lamentavelmente, e pela primeira vez em muitos anos, a hipótese de não votar começa a aparecer-me como saída pª não me sentir confrontada com a minha própria dignidade.

aj disse...

Credo! Podem andar por aqui miúdos piquenos! :)

seja bem aparecida!

mm disse...

Muito obrigada!

Vim cá por sugestão (ordem, mais propriamente) da Drª Girassol que pede pª lhe dizer que o aj voltou a fazer posts demasiado longos e que isso lhe complica as dioptrias das lentes progressivas e lhe encaracola os neurónios ;)

(A palavra de verificação é «resecti», li «vasecti», q'horror!)

Anónimo disse...

Lendo de raspão que tenho ainda mt casa para limpar, eu, Maria desde o berço 'tou absolutamente de acordo com o Celsinho (ai, ai, ai! como me faz lembrar o meu primeiro homem de há 40 anos atrás!!!). E aquilo que o Celso diz explica mt coisa. Posso? Enumero:
- A rápida emigração das classes jovens nascidas na malfadada década de 70 do sec. passado
+
- A descida da taxa embrionária
+
- O desinteresse a que foi votada (com as raras excepções que o Sr. Celso deve conhecer tão bem como eu! afinal na sua pensão devem haver periódicos de jeito, ou não?) a Academia

'tá a ver?
As suas melhoras da espandilose. Melhorsito ou nem por isso?
Ass: A Maria

aj disse...

é verdade!..os famosos conselhos da Drª Girassol! Há qto tempo :)

aj disse...

Sodona maria, sinto tb um tratado sociologico embrionário por aí!

Pois aqui no lar, vai-se vivendo, estou agora à espera das eleições para ver quem vão ser os novos hóspedes. A espandilose é uma curtição!