Julia Sardinha

Nascera numa desova perto de Peniche, cedo fora bem recebida no cardume e a sua primeira excursão de treino foi tão bem sucedida, que logo passou a responsável pela carreira de Leixões, sempre na bisga e sem encontrões. A sua melhor amiga na altura era a Ritinha, uma petinga de se lhe tirar o chapéu mas que, sem sorte nem arte, acabou entalada nas guelras dum espadarte enjoado de carapau. Desde a mais tenra idade Julinha se destacou pela forma como se esquivava aos predadores da costa, entrincheirados nas águas turvas, e dizia-se que a sua barbatana dorsal iria deixar muito arenque de boca aberta e espinha dobrada; seria safada. O seu sonho era espraiar-se numa enlatada gourmet, banhada de azeite virgem, tratada pelas mãos dum conserveiro experiente e cortês que zelasse dos seus belos omegas3 destinados a proteger corações com ânsias de vasculação. Namorou com Nemo, inspirou contos para crianças de escritores com excesso de imaginação, entrou em dois fados castiços, disfarçou-se de moby dick numa festa de carnaval das cavalas de Viana do Castelo, entrou numa receita com marmelo, passou uma noite ao luar dentro dum búzio oco, e foi madrinha de casamento de um choco, que se imortalizaria em tinta dum quadro de Soulages. Só morre o que mexe, mas conseguiu fugir à tomatada e ao escabeche, aos restaurantes chamados Belmares, à brasa, e aos santos populares. Fingiu-se fina, fingiu-se grossa, mas acabaria estaladiça e untuosa. Fritinha. Servida num prato de entradas juntamente com Luisinha, Miriam e Marisa, concorrendo com um pires de linguiça; boas entradas.

2 comentários:

Anónimo disse...

;)))!!! BOAS ENTRADAS! UM MT BOM ANO PARA SI!!!
BJS

aj disse...

Bom ano também!