Larissa Lawson era o principal modelo para bustos femininos de Sergei Richard Thorvey , um pintor inglês de algum pendor naturalista, padrinho de crisma de Thomas Gainsborough e que começou a ser muito procurado como retratista desde que fizera a cozinheira de Joshua Reynolds parecer-se com uma das manicuras de Henrique VIII e que até haveria de aparecer alguns anos depois num postal do Constable a mugir uma vaquinha malhada.
As sessões de pintura de Sergei com Larissa eram momentos de enorme empatia, e as mamas de Larissa já tinham servido para modelo de quase todas as nobres do reino, que, assim, exuberantemente decoravam as paredes dos salões mais concorridos e afamados.
Sergei Thorvey era conhecido por, enquanto pintava, ir falando com os seus modelos sobre os problemas do mundo e da arte e foi assim que as mamas de Larissa acabaram por ser as ilustres testemunhas de muitas das ideias que se haveriam de tornar revolucionárias para o mundo das artes. Ficaram famosas e agora consideradas verdadeiras preciosidades, pequenas notas em papel, onde Thorvey escrevia - curiosamente em português, porque tinha aprendido a língua com uma preceptora que era originária de uma família de Gondomar - frases curtas enquadradas por poses singelas das mamas-de-Larissa. Deixo aqui uma das mais enigmáticas, que está patente numa exposição temporária do Museu de Pintelhices de Aix-les-Bains:
A história da ligação (artística, apenas) entre Larissa e Serguei ficou marcada por uma perturbação que se veio a verificar definitiva, quando numa sessão o pintor aureolou de forma excessivamente rugosa a ponta do seu (dela) mamilo, ao que esta terá reagido, «se é assim que me vê é porque nunca se dignou tocar-me», tendo levado por resposta a célebre frase: «a mão corrompe o olhar»; depois disso Larissa levantou-se, tapou-se com um trapo de linho cor de mel deixando apenas à vista 3/4 da anca esquerda, e Sergei ficou de mãos e olhos a abanar durante mais de três meses, apenas desenhando copas de pinheiros mansos, bochechas de bacalhau e maçanetas de porta.
Sergei só volta às mamas (no que ficou conhecida como a sua fase 'back to tits') no último quartel do séc XVIII quando conhece numa loja de ferragens de Southampton uma moça de nome 'Nigella Riquelme' que era filha do dono da loja, e fruto dum romance que este tinha desenvolvido numa viagem à América do sul e onde conhecera uma prima afastada da Pocahontas, uma moça de robustos dotes de sedução e que tinha o óbvio grand-nom (o oposto ao petit nom) de Porcahontas.
Recuperada a alegria de pintar, Sergei Thorvey enceta com Nigella uma revolução na forma de ver as mamas, onde cada uma tem uma forte autonomia, uma vida própria, já não estamos perante 'um par de', mas sim perante duas forças individuais, duas almas únicas, dois mundos que tanto se encontram como se desencontram, tanto se repelem como se atraem, tanto se encaixam como se desdobram. Do arranque desta fase são conhecidos muito poucos esquiços, mas deixo aqui um, recuperado duma mudança de papel de parede da casa de Sir Thorvey, em que fazia de tapa frestas, e que adquiri num alfarrabista em Silicon Valley.
No entanto, a relação com Nigella Riquelme era bastante mais tumultuosa do que com Larissa Lawson, o sangue que lhe fervilhava nas veias tornava-a mais impaciente com os resultados que via nas telas de Serguei, - um mamilo a apontar para o rodapé e o outro para o relógio de cuco - o que foi criando no seu espírito uma sensação crescente de frustração, incompreensão e desânimo, levando-o a abandonar a pintura e, face ao seu temperamento de pendor reservado, a dedicar-se à poesia memorialista, tendo Nigella montado um restaurante nos arredores do actual Soho, onde hoje duas amigas vendem risotto al fungi para fora, e rinzada al pesto para dentro.
Sem comentários:
Enviar um comentário